segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Sobre o natal

 Não sou cristão. Não que isso signifique alguma coisa em relação ao natal, pois a grande maioria dos cristãos não usa a data para comemorar o nascimento de cristo, mas para se reunir, comer e beber. Enfim.

Dito isso, digo também: gosto do natal. Sempre gostei, desde criança. Não sei explicar bem o motivo. Talvez seja porque, nesta data, tudo fica aparentemente mais pacífico e cheio de amor. Mas acho que isso é coisa da minha cabeça. Sim, deve ser. Gosto das luzes também. Tanto que uso uma luz de natal em meu quarto 365 dias por ano. Fica um clima aconchegante, sabe? Todos que entram em meu quarto sentem isso. Conforto. Não vou mentir, também curto as comidinhas diferentes e tal. Gosto até mesmo das reuniões familiares - claro, neste ano da peste, cada um vai passar com os seus. Sem aglomeração (mentira. As pessoas pouco se importam com esta pandemia e vão fazer tudo como se estivesse tudo bem). 

É isso. Amo o natal, amo as luzes, a paz e a tranquilidade que ele traz. Procuro ter este sentimento natalino em mim ao longo de todo o ano. Dar conforto. Promover o amor. Essas coisas assim. Feliz natal!



sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Um bom dia em Glasgow

 


 Um bom dia em Glasgow. Parece que tudo está indo bem.Acordei com o barulho da chuva no telhado, li um trecho da bíblia, tomei o café da manhã e saí com minha capa de chuva lilás. A desolação do parque é apenas aparente. Quando termina a chuva, dezenas de pequeninos seres aparecem em todos os cantos: pássaros, borboletas, um ou outro esquilo e alguns cães. Saio de casa toda manhã e vou sempre ao mesmo local, o Café Willow Tea. É como se um imã me atraísse. Peço um expresso, apesar de não ter vontade alguma de beber. A garçonete pergunta se quero uma empada de queijo. Ela sempre pergunta isso, porque as primeiras vezes que fui ao Café comi algumas. E agora eu sou o Garoto das Empadas de Queijo. Parei de comê-las, passei a tomar apenas um expresso. Continuarei assim até a garçonete esquecer que um dia fui o garoto das empadas de queijo. Só espero que ela não passe a achar que me tornei o garoto do café expresso. Mas acho que não há esse risco, porque muitas pessoas vão a um café apenas para tomar...café.

 O Willow Tea é um dos Cafés mais antigos da cidade. É decorado com fotos de pessoas famosas que nunca estiveram lá. Tenho uma sensação estranha quando fico lá sentado, a maior parte do meu tempo livre, escrevendo canções e esperando que algo de diferente aconteça um dia, para quebrar a monotonia. Às vezes componho uma canção sentado inteira ali. Às vezes levo meus fones e fico quietinho, olhando meu café esfriar e curtindo alguma banda local. Da última vez fiquei ouvindo Vaselines. Apesar do nome ser meio inusitado, a bandinha é linda. Um casal que toca e canta pop fofo. Li em alguma revista antiga que era a banda preferida do Kurdt Kobain. Legal.Soa como se crianças doces e inocentes fizessem uma banda de punk. Bem, acho que vou ao cinema agora. Preciso conversar com o dono de lá. É parte de um trabalho de escola. Parou de chover.

(Não me lembro muito bem de ter escrito este texto. Tentei emular os textos que vinham nos encartes dos álbuns do Belle & Sebastian. De todo modo, é um textinho que gostou muito!)

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Voltei a sonhar acordado

Quando eu era adolescente eu tinha o costume de sonhar acordado. Sabe do que falo? Ficava horas e horas imaginando conversas inteiras, olhares, sorrisos e toques. E isso me salvava de uma inevitável solidão. 

De uns tempos pra cá voltei a sonhar acordado. Com encontros íntimos em Cafés confortáveis, em dias de chuva e frio. E posso dizer: novamente, isso tem me salvado. Mesmo com a perspectiva certa da não realização. Sonhar é bom.

 
 

 

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Sobre a falta de um proprósito

 Objetivos de vida hodiernos se resumem e se concentram na área econômica. A vida não pode se resumir a isso: dinheiro. Não pode. Deve haver mais. Preciso de mais. 

Religião e espiritualidade são muletas. Mas não há nada de errado em crer/praticar. O problema é quando isso se torna uma cortina de fumaça que impede de ver a realidade como ela é. O mundo não é um lugar maravilhoso onde o sol sempre brilha e todas as pessoas são felizes. Positividade individualista só serve para recarregar as baterias do ego. A vida também tem que ir além disso. Devo ultrapassar a ideia de deus, de espiritualidade, encarar o vazio e, ainda assim, entender: a vida é mais que isso. Tem que ser. 

Mas, se a vida não é dinheiro ou deus, o que ela é? Ou, melhor: qual é  o seu propósito? 

Intelectuais das mais diversas áreas já se dobraram por anos em cima deste questionamento. Ideias não faltam, e não é a minha intenção aqui analisá-las e sequer as expor. Quem busca por sentido na vida deixa de viver e se torna miserável. Eu tenho/sou o sentido, o propósito e preencho minha vida com isso. O propósito é construir um ser-no-mundo em meio ao caos do acaso. É tentar fazer algo com o que tentaram fazer de mim. 

Enfim, definições do tipo não faltam. Penso em um de meus alemães preferidos, que disse que na vida o homem tem pouquíssimo tempo livre, de fato. E que faz questão de preencher este tempo livre com qualquer coisa, para que assim nunca pense no propósito de sua liberdade. 

Liberdade, vida, propósito. Monologo profundo e solitário. Há anos não entro em uma conversa assim com alguém. Tenho me sentido cada vez mais só. Mesmo entre os poucos amigos que me restam. Não sei qual é  o propósito de minha vida, de minha existência. Só sei o que sinto: que  os anos estão passando, os amigos diminuindo e a solidão aumentando.

 O que me mantém vivo, francamente? Amor e arte. Enquanto houver livros que merecem ser lidos, filmes e músicas que me sejam atraentes, eu viverei. E viverei bem. 

E amor. Pela família. Pelos pets. Pelos desconhecidos que sofrem, por quem sequer pensa em mim. Todo amor é o maior amor do mundo. E o meu amor, minha intenção de amar é grande. Tanto que sobra. Mas sinto que essa sobra transborda dia após dia, para nunca mais voltar.

Sobre amor sem destino

 Tanto amor. Sem destinatário. Sinto-me como uma extensa carta romântica-e-brega-e-sonhadora escrita à mão. Com o campo "Remetente" em branco. Aos cuidados de.

 



quarta-feira, 18 de novembro de 2020

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Sobre um amigo que se foi

 Há cerca de 6 anos ele apareceu. Magro e assustado. Um gato preto, já velho, que provavelmente sofreu por toda a sua vida. Em minha casa encontrou alimento e amor, além de amigos felinos. Ficou conosco por todo este tempo. Era arisco e só comia carne. Não demos um nome. Como era selvagem, respeitamos sua condição e o chamávamos de gato preto, negão, pretinho e outros apelidos semelhantes.

 Há uns 3 meses ele adoeceu e tratamos no veterinário. Neste fim de semana ele novamente ficou ruim, corremos para cuidar, mas ele não resistiu. Sei que fiz o que pude, mas ainda assim, a sensação é de que poderia e deveria ter feito mais. Sinto que perdi um amigo.

 Os outros gatos estão sentindo a ausência dele. Eu também. Cheguei em casa ontem e não o vi deitado no canto de sempre. Ele não esperou por carne na porta da cozinha na hora do almoço. Sua casinha estava vazia. Tento justificar a sua morte: ele estava muito ruim, com vários problemas de saúde. Descansou. Mas, no fundo, não aceitei bem isso. Amei este gato, como amo todos os outros animais que tenho e não tenho. Meu consolo é que ele encontrou um lar amoroso para desfrutar de seus últimos anos.



quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Idade e sentido

 Aos 33, não vejo sentido em muitas coisas mais. Em relacionamento afetivo, no amor, em amizades, em trabalhar muito para ganhar dinheiro para gastar com coisas das quais não preciso, em religiosidade/espiritualidade e em muitas outras coisas.

 Nunca estive tão sozinho e tão perdido. No entanto, não me sinto mal. No momento, a única coisa que faz algum sentido em minha vida é viajar. Desde a preparação até o retorno. Isso me traz felicidade genuína, desprovida de interesse ou objetivo. Só o fato de pegar a estrada já me faz bem. Vejo como uma prática de kinhin. Esvazio minha mente. Sou a estrada. Cada curva, reta, cada pedaço de chão, as árvores e cidades e pastagens ao redor. Nada mais importa. 

 Às vezes, a solidão incomoda. Sinto falta de conversar, de ter alguém que seja íntimo, de sexo. Alguém que eu possa pelo menos ligar às vezes. Mas é uma falta suportável. Não consigo me ligar a alguém sem algum vínculo afetivo, de amizade antes. Isso meio que ferra com tudo. Mas sou assim e não vou mudar. Prefiro ser sozinho do que ter amigos e um relacionamento vazios. Não troco minha solidão por qualquer coisa.

E é nessa calma autoconsciente que sigo em frente. Quando chego em meu limite, lembro da frase de Beckett: I can't go on. I'll go on.



quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Mais um dia cinza, frio e confortável

 Sempre que o tempo está cinza e/ou frio, lembro com carinho deste blog. Aqui é o meu lugar-conforto virtual, onde habito e converso sozinho. Se fosse um lugar físico, seria uma sala com uma poltrona confortável, uma mesa de centro com uma caneca de chocolate quente e um livro e teria uma grande janela ao lado. Neste lugar eu ficaria sentado, lendo e bebendo o chocolate quente e, vez ou outra, olharia para a chuva que bate na janela. Um lugar confortável e calmo. Algo assim.

Fico mais delicado quando o clima está assim. Não sei explicar. Menos agressivo e menos agitado. Mais contemplativo e calmo. Realmente amo chuva, frio e tempo fechado.E é só isso por agora. Sem reclamações, sem faltas ou saudades ou nostalgia. Apenas a paz que um dia cinza traz.



quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Sobre solidão

 A vida inteira eu lidei muito bem com a solidão. Nunca fui de ficar chorando ou reclamando sobre isso. E sempre tive o cuidado de não depositar a solução para minha solidão em alguém. Não posso preocupar meus pais com isso; eles já se sentem suficientemente sozinhos. Relacionamentos quase nunca são a solução - ou muitas pessoas casadas não se sentiriam tão miseravelmente solitárias.  O que fazer, então?

Geralmente vivo bem comigo mesmo. Vejo meus filmes e séries. Leio bastante.  Escrevo. Perco tempo na internet. Ouço música por horas a fio. Preparo alguma receita, arrumo algo na casa, brinco com meus gatos. Quando, ainda assim, sou acometido de certo desespero, pego minha moto e saio por aí. Às vezes levo alguma cigarrilha. Paro em algum lugar, fumo sem pressa e volto. Já em casa, aquele momento mais agudo do desespero de ser só some.

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Já tentei ir a bares nessas horas. Mas às vezes é pior. Hoje, por exemplo, fui a um bar que muitas vezes está vazio, sem nenhum cliente. Geralmente eu converso com o dono, bebo algumas cervejas e fico algumas horas por lá. Mas hoje este bar tinha uma mesa com uns cinco ou seis homens. Entre si, alguns conhecidos, poucos amigos. Mas o que unia todos naquela mesa era a solidão, que pairava em volta como uma nuvem cinza prestes a chover. Eu não consigo entrar nesta espécie de grupo, eu me recuso a fazer parte de algo assim - vejo tudo como uma cena patética. No entanto, paradoxalmente, nessas horas sempre penso que gostaria de estar ali, de fazer parte desta entrega momentânea, desta união contra a solidão, sem me preocupar em ser mais um personagem patético e desesperado. Mas não consigo mesmo. 

Distante do grupo eu bebi uma cerveja e fumei duas cigarrilhas. Já passava das dez horas da noite. Então saí de moto sem rumo e, de maneira quase inconsciente, passei por ruas e praças e avenidas cheias de lembranças. Demorei meu olhar em algumas casas, bancos de praças, calçadas e locais. Momentos que vivi na companhia de pessoas caras a mim, pessoas que uma vez foram tão íntimas e queridas. Depois desta tour de nostalgia, rumei para a casa. E posso dizer que o desespero de ser tão só mais uma vez se foi. Por enquanto.

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Sei lá. Tenho visto tanta gente legal tão sozinha. Homens e mulheres. Desesperados para amar alguém e para serem amados. Desesperados por amigos, por mais conversa, olho no olho, toque e afeto. Isso faz muita falta, sabe. No fim das contas todos nós só queremos isso. Alguém que nos tire da solidão. Mas quem?

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Estrada, calor e sexo

 Viajamos juntos para uma cidade sem nome. Andamos por um daqueles centros decadentes, com muita gente, lixo e lojas simples e sujas. O calor era escaldante. Paramos em uma lanchonete, comemos e bebemos algo e pegamos a estrada.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

 Chega uma hora que a gente só quer alguém que fique. Alguém que se importe do mesmo modo. Alguém que tenha a coragem de se entregar como a gente se entrega. De mudar. De fazer acontecer. É pedir muito?



quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Sobre isolamento social em tempos de COVID-19

 Sempre fui, de certa maneira e em certo grau, isolado socialmente. Nunca participei de grupos, nunca tive muitos amigos, nunca frequentei casa de parentes e evito festas e aglomerações sempre que posso. Sinto-me bem sozinho e em companhia de poucas pessoas. Tudo além disso me incomoda.

Desde o começo de março, com a pandemia, que eu não saio de casa. Nada de bares, restaurantes, casas de amigos, lojas, nada mesmo. No começo foi como um sonho - eu não precisava mais dar desculpas para não ver alguém ou para não participar de algum encontro. Mas com o tempo, tanto isolamento social começou a me afetar. 

Nunca pensei que fosse escrever isso, mas o fato é que sinto falta de ver gente, de conversar olhando nos olhos e tal. Claro, não sinto falta de aglomerações ou festas nem nada do tipo, mas de poder sentar em um café com alguém ou de beber umas cervejas em um bar com alguém. Afinal, já são 6 meses de reclusão e pelo visto teremos todos ainda alguns anos vivendo assim. Solidão nunca foi um problema para mim, mas a falta da possibilidade de escapar dela quando quero é algo assustador.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Cinemas, Cafés e bares

Eu nem sou muito de sair de casa. Mas desde o começo desta pandemia de covid-19/coronavirus, tenho saído menos ainda, ou melhor, não tenho saído de modo algum. Nunca pensei que sentiria tanta falta de sentar em uma mesa de bar, beber algumas cervejas e jogar conversa fora com alguém. Mas sinto.

Também sinto muita falta de sentar tranquilamente em um café, beber algo quente e comer alguma coisinha, sem pressa. Eu fazia isso pelo menos duas vezes por semana. Por último, sinto falta de ir ao cinema. Desde meus 6 anos de idade (quando fui a primeira vez ao cinema) eu nunca fiquei tanto tempo sem ver um filme na telona. Ver filmes em casa não é a mesma coisa.

Quando será que voltaremos à normalidade? Voltaremos um dia à normalidade? É tudo incerto, tudo nublado.

PS.: este é um blog onde falo, majoritariamente, sobre sentir falta. De lugares, de pessoas, de sentimentos, de épocas. É um blog sobre nostalgia e sentimentos que não fenecem com o tempo.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

A primeira tarde de inverno

Não fez frio, mas a temperatura estava agradável. Saí de casa às 15:00h, após lavar e lubrificar a moto. O trajeto foi  de apenas 30km, por uma estrada já bem conhecida e rodada. No entanto, mesmo um passeio curto assim é capaz de surtir efeito. Em casa tudo estava estranho e eu estava irritado e impaciente. Saí da cidade e, assim que peguei a primeira reta na rodovia e acelerei até 150, 160, tudo magicamente sumiu. Toda a raiva e impaciência.

O vento em meu rosto, o barulho do motor, a adrenalina, tudo passando rapidamente... Eu não pensava em nada. Apenas acelerei até o meu destino.

Uma vez lá, parei a moto em uma entrada da estrada e fiquei ali, totalmente em paz, vendo o primeiro pôr do sol do inverno com um sorriso de satisfação no rosto. Creio que seja isso que querem dizer quando associam moto à liberdade. Dirigir uma moto é zen. E quem é que tem tempo para ver pôr do sol hoje em dia? Quem tem paciência? Esses momentos simples e sublimes têm se tornado cada vez mais raros, assim como as pessoas capazes de apreciá-los.




sexta-feira, 5 de junho de 2020


Sobre ser uma pessoa sombria, pessimista e negativista

Sei que algumas pessoas me veem assim. Sempre reclamando de tudo: das pessoas, da sociedade, da política, com uma visão de mundo pessimista e negativista. "Pense positivo!", "tenha boas vibrações", "acredite no futuro", "tenha fé nas pessoas", "agradeça por tudo todos os dias" e por aí vai. Já li e ouvi isso em relação a mim.

Ser good vibes, buscar forçadamente essa alegria constante de viver e existir é algo inatural. É baboseira. É alienação. Seres humanos tem altos e baixos, tem bons e maus momentos, dias de alegria e dias de tristeza. Tudo isso faz parte do pacote e negar isso é negar a própria natureza e a própria existência. Nós sentimos raiva, ódio, amor, afeto, indiferença e tudo o mais ao mesmo tempo. Mas poucas são as pessoas que têm a coragem necessária para encarar o próprio abismo, os cantos escuros de si mesmos. Mas não eu.

Na prática, penso que sou feliz. De bem comigo mesmo e com tudo o mais. Sou um bom companheiro, sou fiel, confiável e faço sempre todos ao meu redor rirem e procuro sempre deixar tudo o mais leve possível. Não finjo afeição por pessoas que abomino. Não consigo ser falso com ninguém. Não preciso de religião ou religiosidade, sequer acredito em algo. Isso às vezes assusta as pessoas.

Mas, de onde vem essa ideia de que eu seja um homem sombrio? Talvez do fato de que eu não esconda este lado meu. Quando as pessoas veem isso, elas se afastam. Não concordam. No atual momento que vivemos no país, por exemplo: quem não está puto com tudo ou é um fascista dos infernos ou é um alienado estúpido. Eu não passo pano pra ninguém, não aceito condutas abjetas e não olho para o outro lado quando presencio alguma injustiça. Sei que não vou mudar o mundo, mas no que depender de mim, sempre farei o que é certo.

E, por fim, se por um lado alguns se afastam porque me acham uma pessoa sombria, pessimista e negativista, por outro eu evito pessoas que são felizes o tempo inteiro, sempre sorrindo e agradecendo a deus e ao sol nas redes sociais. Pela minha experiência, esse tipo de pessoa é extremamente mal resolvida e infeliz. Quero ao meu lado pessoas reais, com sentimentos reais e naturais, que não evitam a si mesmas e nem nenhum aspecto de sua personalidade, por mais sombrio que seja.


sexta-feira, 29 de maio de 2020

Diário de sonhos: sobre a impossibilidade de um encontro e uma entidade

Ela estava em São Paulo. Foi a um evento. Eu iria depois. No caminho até o aeroporto, minha moto estragou. Eu não conseguia um táxi e nem ninguém que me levasse. A hora do voo se aproximava. Seria praticamente impossível embarcar. Mas de algum modo eu consegui. No evento, ela estava em um lugar e eu em outro. Eu tentava ligar, mas a ligação ficava ruim e não conseguíamos conversar. Procurávamos um ao outro, sem nunca nos encontrarmos. Fiquei aflito, frustrado e com raiva, tudo ao mesmo tempo.

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Nos fundos de um ferro-velho havia uma oficina mecânica. Fui até lá consertar a moto. Ao lado da oficina havia uma casa abandonada, e algo negativo e mau emanava de lá. Mesmo assim, entrei em um cômodo, mesmo com o mecânico pedindo para que eu não fizesse isso. Então algo aconteceu. Alguma energia, espírito, zumbi, monstro, tudo isso junto e ao mesmo tempo nada disso, mas algo inominável e indescritível. O mecânico se livrou da entidade e tudo voltou ao normal. Não senti medo, mas como se estivesse jogando alguma coisa em um video-game.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Diário de sonhos: casa e shopping

Estávamos em uma casa. Nas preliminares, sentados no sofá em frente a TV. Por algum motivo, não fizemos amor. Saímos de casa, em um carro com mais pessoas, e rodamos pela cidade. Tudo parecia diferente. Eu não conseguia parar de pensar em sexo. Estava excitado. Queria terminar o que havia começado.

Paramos em um shopping. Estava completamente vazio, com muitas lojas ainda fechadas. Caminhamos, nós dois e as demais pessoas do carro, pelos largos corredores. Mexíamos em tudo, como crianças curiosas. Logo estávamos sozinhos novamente. Você corria de mim, fingia que me evitava e sorria quando fazia isso. Participei da brincadeira. Nós nos abraçamos e assim ficamos, abraçados em um shopping vazio.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Sobre algo que tenho pensado



Nem sempre a vida toma o rumo que queremos. E, às vezes, ela toma o pior rumo possível. Nós lutamos, tentamos, nos esforçamos, mas às vezes nada disso é o bastante. E está tudo bem. Ninguém tem controle total sobre todos os aspectos da vida. Trabalho, relacionamento, finanças, futuro, família... Tudo isso se interconecta. Antes eu me desesperava, com uma sensação de urgência, de que tudo em minha vida está atrasado, parado e errado. Hoje eu mudo o que posso, tento mudar o que quero e entendo que algumas coisas não dependem de mim.

Duas frases de Beckett (um de meus autores preferidos) resumem bem minha vida no momento: 

"I CAN'T GO ON. I'LL GO ON"

"EVER TRIED. EVER FAILED. NO MATTER. TRY AGAIN. FAIL AGAIN. FAIL BETTER"

Apoio-me, assim, na arte para tentar sobreviver e ser uma pessoa melhor. E também para ter certa paz de espírito, algo que me permita seguir, apesar de tudo. Outra coisa: é quase impossível não sentir ódio de tudo  o que ocorre no país. A revolta é constante. Mas tento não deixar que esse sentimento seja maior do que o amor que tenho em mim. Por mais complicado que seja, é preciso ter alteridade. Em relação a isso, deixo o maravilhoso e pungente vídeo abaixo:


Diário de sonhos: sobre uma festa, uma montanha e amoras

Estava em minha casa com algumas pessoas. Parecia alguma festa. Barulho e movimento. Em meu quarto, víamos algo na tv. Um filme. Uma garota pediu para que eu a abraçasse e depois sentou em meu colo. Fiquei constrangido, pois não queria nada daquilo. Saí e caminhei em volta da casa. Alguém me chamou, mas não descobri quem.


Saímos da cidade e começamos a subir uma serra. A estrada de terra e grama era estreita e com mato em  volta. No horizonte, uma enorme montanha. Você me disse: "vamos andar distraídos, porque assim ninguém vai saber que estamos indo até a montanha." E assim fizemos. Em certo momento, você viu uma amoreira na beira da estrada. Fomos até a árvore e comemos algumas amoras. Estavam doces. Você me deu um beijo e seguimos nossa caminhada rumo à montanha.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Sobre realizar um sonho - e as consequências disso

Realizei um sonho antigo, que me acompanha há mais de 15 anos. Comprei uma motocicleta nova. Inglesa, com visual retrô. Era tudo o que eu sempre quis. Se estou feliz? Não sei. Acho que não.

Explico: a minha vida inteira eu corri atrás de amor, de afeto, de presença. Lutei por isso, gastei com isso, fui atrás mesmo. Colecionei humilhações, comportamentos patéticos e súplicas: tudo por querer aquilo que todos querem: um pouco de amor. Então, agora, tive a chance de gastar minhas economias de 3 anos para correr atrás e repetir todo esse processo exaustivo e degradante - ou eu poderia fazer algo novo.

E, mesmo com meu coração me implorando para fazer tal coisa, segui a razão. Quebrei o ciclo. Pensei em mim mesmo pela primeira vez em mais de 10 anos. Então, não, não estou feliz ou leve. Estou angustiado pra caralho. Sozinho e tal. Mas não estou nem um pouco arrependido. Demorou muito para que eu entendesse e aceitasse que tenho que amar, primeiramente, a mim mesmo. Afinal, se eu não me tratar bem e ser compassivo ao ponto de realizar um sonho material para mim mesmo, quem vai? Uma vida toda de concessão, humilhação e de busca por migalhas de amor e afeto não é uma vida que merece ser vivida. Vivi isso por tempo demais, então sei do que falo. Não estou feliz ou leve, mas espero que, com o tempo, pelo menos eu me sinta livre.

Algumas coisas das quais sinto falta

Sinto falta de olhar nos olhos de alguém e ver o mundo todo ali - de ver quando o amor transborda pelo corpo através dos olhos. Falta de mãos delicadas e macias em contato com as minhas. De um hálito quente que fala próximo a mim e faz com que meus pelos se arrepiem. De um abraço (um parêntese aqui: detesto abraços, mesmo aqueles rápidos quando cumprimentamos alguém. Mas sinto falta de um abraço específico, de sentir um corpo junto ao meu por alguns segundos e desejar que estes segundos fossem infinitos. Daquele abraço que nos deixa tão confortáveis que não queremos mais soltar e ficamos até mesmo excitados). Sinto falta de sexo. De sentir o calor de alguém, dessa troca cheia de desejo e sem nenhum tabu, de explorar um corpo e ter o meu explorado, de dar e receber prazer. Sinto falta de conversar, trocar experiências, causos, curiosidades e amenidades. De rir com alguém. Sinto falta de ter alguma pessoa parceira, que seja confiável e que possa confiar em mim também.

São muitas as faltas e muitos os sentimentos.

Sonhando com Cafés

Tenho sonhado bons sonhos. Sonhos confortáveis e tranquilos. Pacíficos e delicados. E tenho sonhado muito com Cafés. Creio que isso seja um reflexo imediato de meu desejo de sentar com alguma alma afim em uma cafeteria e conversar demoradamente sobre a vida, o universo e tudo o mais. Olhar nos olhos. Quem sabe um toque de mãos.

Sinto muita falta disso. Mas, não vou mentir: mesmo antes da pandemia eu já sentia essa falta - e se não fazia isso era por falta de companhia. Então, afinal, o desejo de passar uma tarde inteira em uma cafeteria tem a ver com o desejo de passar a tarde inteira com alguém; desejo por interação, comunicação, troca.

Sei que ao dizer isso corro o risco de ser completamente patético. Mas é isso que somos: seres que buscam pateticamente por alguém que nos tire de nossa solidão, mesmo que seja só por alguns momentos confortáveis, tendo como desculpa uma xícara de café em cada mão em uma mesa qualquer.



Nesta atual situação em que o mundo se encontra, tenho sentido que é momento de ficarmos com quem amamos, com quem nos quer bem e por perto. Reforçar estes laços, estreitá-los... Precisamos acreditar que tudo isso vai passar uma hora. E com pessoas queridas por perto, esse crença se torna mais palpável. Ou algo assim.

No entanto, nunca me senti tão sozinho em toda a minha vida. Minha família tem sido um grande suporte, como sempre. Mas a solidão que sempre senti aumentou muito. Antes, quando me sentia sufocado e quase desesperado, saía e passava a tarde em um café ou a noite em um bar qualquer. Agora, só tenho o silêncio do meu quarto e o vazio das ruas, o que torna difícil essas fugas da realidade. Não sei o que fazer, não sei quando tudo isso vai mudar. Nestes tempos estranhos tenho me sentido também muito estranho, cada vez mais calado, fechado e só.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Tempos Estranhos

São tempos estranhos. Para todos em todo o mundo.Um vírus, uma ameaça invisível, mudou tudo.Ainda não me adaptei a esta nova configuração global.

Viagem marcada com passagens compradas, férias programadas, investimentos e metas/objetivos... Tudo abortado. Alguns dizem que levaremos cerca de dois anos para ter certa normalidade. Outros, que tal normalidade nunca mais retornará.

Não tem muito o que eu possa fazer. Trabalho, leio, descanso e tento não enlouquecer. Preocupo-me com as pessoas que amo. Preocupo-me com as pessoas vulneráveis. Mas, repito, tento não enlouquecer. A vida segue. Como e até quando, não sei. Mas segue.

(Faz certo frio agora. Tomo um café enquanto escrevo. O mundo está um caos, mas estou em paz.)

terça-feira, 31 de março de 2020

Encontros e Desencontros (diário de sonho)


Eu estava em uma grande cidade. Em um local com muitos bares e restaurantes. Sabia que você estava por ali. Mas procurei, procurei e não te achei.

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Estávamos juntos, andando pra lá e pra cá. Conversávamos com tranquilidade e certo constrangimento.Como crianças que acabam de se conhecer.

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Peguei um elevador, e quando a porta se abriu eu estava dentro de uma loja de departamentos que dava para um calçadão e uma praça. Dali, caminhei para a esquerda e comi em um restaurante. Depois, fui procurar uma casa do lado direito. Bati, mas ninguém me atendeu. No caminho, conversei bastante com o taxista.Era perigoso andar por ali, ele disse. Mas não tive medo.

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A cidade era um lugar bonito, com alamedas e praças. Tirei fotos e você estava ao meu lado.Sorríamos com leveza, um sorriso de quem não tem pressa e não tem outro lugar que queria estar.

quarta-feira, 25 de março de 2020

Passing afternoon




Não é uma foto bem produzida. Apenas coloquei o livro ali do lado e pousei o cachimbo por um momento, para escrever este texto verborrágico.

Não me lembro qual foi a última vez que tive um momento assim. De tranquilidade e descanso. O tempo livre que tenho é para descansar, mas como vivo cansado, nunca consigo aproveitar muito bem. Durmo muito e, ao fim de cada domingo, sinto apenas que recarreguei as energias o suficiente para encarar a próxima semana. Parece que nada nunca rende, nada se desenvolve de uma maneira satisfatória.

Nestes dias de isolamento social, usei o último fim de semana para descansar. Sem trabalho. na segunda, passei o dia lendo (e terminei um livro inteiro).
Hoje, neste fim de tarde, fiz um café forte. Sentei nas escadas da porta da frente da casa, piquei uma porção de fumo de corda, abasteci o cachimbo e dei algumas tragadas preguiçosas, ao som de Sulfjan Stevens. Li um conto do Caio; mais algumas tragadas. Sem propósito, sem pressa e sem nenhum cansaço.

Eu poderia viver uma vida inteira assim, como um hobbit, ociosamente entocado entre cachimbos e livros. Apenas vendo a tarde passar…



sexta-feira, 13 de março de 2020

Não sou bom com pessoas

Quero dizer, não sou bom em lidar com elas. Não sei conversar, puxar assunto ou manter um diálogo interessante. Quanto menos conheço a pessoa, mais dificuldades tenho em me relacionar com ela. Quando eu era adolescente eu atribuía isso à timidez. Depois de adulto, descobri que não era isso.

Sou uma pessoa muito intensa e não consigo manter conversas frívolas ou superficiais. No dia a dia é penoso ter que aturar este tipo de contato. Em um âmbito mais pessoal, procuro estar sempre com amigos íntimos. Não gosto de grupos nem de lugares com muitas pessoas. É isso.


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Uma coisa maravilhosa sobre amizade é que ela não perde sua força, mesmo quando as pessoas perdem o contato. Vi um cara na rua hoje que ia muito em minha casa há uns 15 anos. Distanciamo-nos naturalmente; acontece. Cada um seguiu seu rumo. E ao vê-lo, em alguns segundos estávamos conversando com a mesma naturalidade e intimidade de 15 anos atrás. Isso me deixa feliz. Convidei ele para me fazer uma visita.

Por outro lado, às vezes me incomoda - mesmo que isso seja normal - quando pessoas que já foram tão próximas, íntimas e presentes se tornam estranhas. Tudo fica esquisito. Como se houvesse uma parede, um tabu ou algo invisível que impedisse a reaproximação. Respeito e nunca tento me reaproximar nestes casos, nunca forço nada. Mas fico naquela nostalgia ao ver essas pessoas, e com um ponto de interrogação na cabeça. Sim, eu gostaria muito de me reaproximar. Mas não sei como.

domingo, 1 de março de 2020

Sobre emanar amor

[Apenas um pequeno complemento sobre o post anterior]

Tendo em vista a solidão como algo inerente ao ser humano, tendo em vista nossa luta diária para lidar com isso, eu tento ser uma pessoa que emana amor. Com franqueza, sem interesse, sem motivo, tento sempre mostrar isso ao mundo. Procuro deixar as pessoas com as quais em cruzo sempre com um sorriso leve no rosto e uma sensação boa. Sei que é insignificante perante o vazio, o acaso e a falta de sentido de tudo. E não faço isso porque é algo que é gratificante para mim - como um introspectivo, um introvertido, qualquer tipo de interação me cansa e esgota rapidamente. Faço isso porque penso que, nem que seja por um breve momento, as pessoas que passam por mim podem se sentir leves e tranquilas e, quem sabe, por um brevíssimo momento, seu fardo pode pesar menos. Se eu pudesse ter um verdadeiro papel em minha vida, seria esse: de ser o que traz a leveza aos outros, mesmo tendo em si todo o peso do mundo.


100 anos de solidão

A vida é estranha. Um dia está tudo bem. Tudo perfeito. No outro, nada está bem. Qualquer aspecto da vida de qualquer pessoa pode mudar com muita rapidez. Para melhor ou pior. Um emprego novo, uma morte inesperada, o fim de um longo relacionamento, o começo de um novo relacionamento, uma mudança de casa, uma nova amizade, o fim de uma antiga amizade. Qualquer coisa. A qualquer momento.

Somos fortes perante as adversidades. Procuramos um sentido para tudo. Deus. Espiritualidade.  Pseudociência. Tentamos entender a mente, saber como reagir, suportar, lidar. E seguimos em frente. Claro, entendo que uma pessoa ou outra não consegue. Mas são exceções - e respeito muito quem tem a coragem necessária para desistir. Enlutados, solitários, confusos, tristes, miseráveis, presos, sufocados, seguimos. 

A vida é estranha e solitária. Solidão é um aspecto inerente à vida. Mas é algo que pouquíssimas pessoas ousam encarar, mesmo que só por algum momento. Todos somos criaturas extremamente solitárias e buscamos todo o tipo de panaceia para isso. Mas não há religião ou relacionamento que nos livre de nossa solidão. Alguém pode dizer "eu não concordo. Eu não me sinto assim." Mas sabemos que isso será uma mentira. A solidão, em última instância, vem da falta de lugar no mundo. Da falta de propósito. Quanto mais a pessoa entende dos mecanismos da existência, da rotina, das pessoas e do que é realmente viver, mais sozinha ela se sente. Há quem encontre conforto na espiritualidade e em qualquer religião. É, ao meu ver, um tipo de enganação que só pode ter um dos dois motivos: por ignorância ou por fraqueza. Ignorância no sentido de acreditar piamente em tudo sem nunca contestar e tirar daí sua força. E fraqueza por não querer transcender o fino véu do conforto religioso e espiritual e encarar o vazio adiante. 

Há também quem encontre conforto em outra pessoa. Acredito que este tipo de solução para a solidão seja mais benéfico do que a anterior, porque uma outra pessoa pelo menos existe e não é um apanhado de mentiras loucas usadas para enganar, persuadir e controlar as pessoas. Isso é, se o relacionamento for saudável. O problema é que pessoas vem e vão. Portanto, quem busca esta fuga para a solidão, ou passa de um relacionamento para outro e encontra o maior amor da vida todo ano em uma pessoa diferente, ou se sente extremamente e eternamente sozinho por ter perdido este amor. Claro, eu sei que a maioria das pessoas encaram relacionamentos como são, apenas relacionamentos, e não como uma salvação (deixo aqui um parêntese de peito aberto e deveras constrangido: vejo essas histórias de casais juntos há décadas e décadas e décadas que ainda se amam e convivem bem até o fim de seus dias e meu coração se enche de ternura e amor. Eu ainda realmente acredito em algo assim. É raro e mágico, mas existe. Sim, eles ainda têm a solidão em suas vidas. Mas, em momentos extremos sabem que têm um ao outro).

Sou 100% funcional, como qualquer pessoa normal. Trabalho, faço minha academia, tenho meu círculo social, meu relacionamento. Viajo sempre que posso, visto-me bem, uso perfume,  faço a barba, uso até gravatas e cachecóis, evito conflitos desnecessários, discussões, tento resolver tudo através de muito diálogo, enfim, cuido de meu exterior e de meu interior. Tento manter a sanidade e seguir em frente. E até o momento, creio que tenho me saído muito bem. Minha vida tem caminhado para a frente - não como planejei, mas mesmo assim, adiante. 

No entanto, há a solidão. Fui uma pessoa solitária por toda a minha vida. Por evitar amizades superficiais e que não acrescentam em nada, por evitar amizades que existiam apenas para que eu não me sentisse sozinho, sempre convivi com a solidão. Algumas vezes ela é reconfortante, porque sei lidar com ela. Mas em outras ela é pesada, densa e sufocante. 

De um dia para o outro tomei um golpe neste sentido. Sem planejamento. Sem aviso. Apenas aconteceu. E agora, a solidão que era apenas neblina virou granizo - e chove em mim. Por quanto tempo, não sim. Sei que continuarei. Sou resiliente. Só eu sei os demônios que já enfrentei, os leões que já matei. Mas confesso: não é fácil viver em solidão, com esse nó na garganta e esse ímpeto de se isolar cada vez mais. Nunca foi fácil. E agora viver assim ficou ainda mais pesado e denso. Este é o meu fardo, o da solidão. E, mais ou menos pesado, é o fardo que todos nós precisamos carregar.


*Escrevi este texto usando como trilha sonora algumas das fugas de Bach. Dizem que Beethoven foi o maior. Wagner, o mais épico. Mozart, o mais genial e ousado de seu tempo. Encontro em Arvo Part a melancolia que tenho em mim, mas nem sempre consigo encará-lo. Mas Bach não emana em suas músicas um aspecto da vida, seja ele emocional ou técnico. Bach transcende a própria vida. E o que há depois da vida? O divino. Encontro meu Deus, minha espiritualidade, na música. E a música que chegou mais perto dos céus foi a de Bach. Ele me ajuda a seguir em frente. Coloco meus fones e durmo com uma sensação de estar abraçado com Deus. Um Deus verdadeiro, sonoro, que vive na música. (no vídeo abaixo deixo um arranjo da "Pequena Fuga" para orquestra, feito pelo maestro Stokowski).






But for now... I feel like nothing


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Dias de paz e amor

Eu sei, isso parece lema hippie ou nome de música sertaneja. Eu sei. Mas não há outro modo tão simples e sincero de dizer isso.

Nestes dias de feriado carnavalesco viajei para uma cidade um tanto maior do que a minha. Não fiz nada fora do normal.Fui ao shopping comprar roupas (e até me dei ao luxo de adquirir um perfume francês de uma marca inglesa que queria há tempos), fui também em restaurantes e pubs. Entre o hotel (confortável e com um gigantesco café da manhã) e os lugares que fui, entre um táxi e outro, choveu todo o tempo. O céu sempre cinza, com ventanias eventuais e uma chuva que variava entre garoa e tempestade.

Foram dias perfeitos. Dias de tranquilidade absurda, de paz e conforto. Dias que passei com sorriso no rosto e com a cabeça nas nuvens. Recarreguei minhas energias e estou pronto para encarar a realidade novamente e por um bom tempo.

E foram dias de amor. Não tenho (nunca tive) problema em fazer as coisas sozinho. Vou a restaurantes, viajo e passo grande parte dos meus dias fazendo tudo o que preciso e quero sozinho. Mas estar com alguém em uma viagem assim, com alguém que me ama e que é amada por mim, é algo único, que potencializa todas as boas sensações da viagem. Tomar um espresso vendo a chuva cair do outro lado da vitrine com ela ao lado, passear por aí de mãos dadas como dois adolescentes enamorados, beber em pubs rústicos e comer em restaurantes desconhecidos, caminhar por ruas vazias, entrar em uma loja qualquer para experimentar uma roupa, rir da programação da TV do hotel... Tudo isso fica colorido e leve, contrastando com o tempo lá fora, quando estou com ela. Pintamos arco-íris por onde passamos. 
 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Pense...

"Pense Mary, se estivéssemos caminhando por um belo campo, num dia lindo, quente, e — de repente — fôssemos colhidos por uma tempestade no meio do passeio.

Que maravilha seria! Existe emoção maior que ver os elementos produzindo força e energia, através do movimento nos céus? Vamos deixar para trás as quatro paredes de nossos quarto, Mary.
 
Vamos andar por lugares solitários, e conversar um pouco. Eu [...] posso entender a mim mesmo quando comento algo com você. Eu já disse isso antes, e repetirei sempre."
 
 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Café, contemplação e solidão

Ultimamente minha vida se resume a isso: Café, contemplação e solidão.




Foto minha, em um Café por aí, em alguma tarde cinza.


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Sobre falar sobre alguns sentimentos

É possível, claro, expressar qualquer sentimento através de palavras. Mas e quando o sentimento pede para ser usado, expressado por si mesmo? E quando não conseguimos ou podemos fazer isso, por incapacidade, falta de coragem ou mesmo falta de um alvo/objeto/ser? Todos temos cofres mentais com sentimentos guardados, esperando para serem usados. 

Eu cansei de falar de amor, de afeto e de coisas afins. Seria bom se eu pudesse praticar isso, usar. Realmente sentir. Mas, por enquanto, tudo o que posso fazer é escrever e falar sobre alguns sentimentos.

 

Sobre Supermercados e um em especial

Devo ser a única pessoa do mundo que se sente nostálgica e que gosta de ir a supermercados para desanuviar (a única é exagero, melhor “uma das poucas”). Sempre que estou com a cabeça pesada, sentido-me mal ou apenas solitário, vou ao supermercado. 

Lá, caminho sem pressa, comparo preços, rodo o lugar todo por várias vezes. Isso me distrai e acabo realmente interessado pelos produtos, o que faz com que as coisas que incomodavam minha cabeça deem um tempo. Às vezes compro coisas demais, coisas que não preciso. Mas sempre vale a experiência. 

Faço isso há mais de 10 anos.

Há um supermercado que especialmente me provoca muita nostalgia. Lembro da época que ia ali com com amigos que não tenho mais contato, lembro até de pessoas que encontrei no lugar e de amigos que moravam perto. Enfim, é muito difícil tentar transmitir isso e creio que o resultado nunca será satisfatório, nunca estará a altura do que sinto.

Também gosto de observar pessoas nos supermercados. As crianças pidonas, as senhoras escolhendo tomates com o maior cuidado do mundo, os jovens comprando carne e bebida, casais, avós com seus netos e os funcionários. Minha mente vagueia ali.

Se um dia eu morar perto de um supermercado 24hs farei diversas expedições noturnas por lá, para extirpar a solidão e as sensações indesejadas que aparecem com a noite.



publicado originalmente AQUI.

Sobre Ingratidão

A ingratidão é um aspecto inerente ao ser humano. Precisamos aceitar este fato, esta parte de nossa natureza, pois ao aceitar podemos trabalhar para mudar. Não é fácil, mas é possível.

Temos a tendência de ignorar quase tudo de bom que fazem por nós. Cada esforço, agrado, demonstração de amor, preocupação, afeto, amizade, confiança e até mesmo gratidão vinda do outro se mostra ineficaz. Sentimos que quem age assim conosco não faz mais do que a obrigação, do que o mínimo possível. Somo seres egoístas e individualistas. Mas, claro, recusamos este fato sobre nós mesmos e se alguém nos acusa de algo tão terrível assim, não aceitamos.

Falar sobre gratidão sem cair em lugar-comum é difícil. Não me refiro aqui à gratidão por estar vivo e não penso que você deva fazer saudação ao sol sempre que acorda pela manhã. Pro inferno com “namastê” e “carpe diem”. Falo da gratidão em relação aos outros e ao que fazem por você. De reconhecimento, e até mesmo de alteridade e empatia.

Devemos nos policiar constantemente, analisar como as pessoas nos tratam, para que assim não sejamos injustos e ingratos. Penso que algumas coisas ajudam na manutenção da ingratidão e discorro rapidamente sobre elas a seguir:

Temos a tendência de relevar coisas boas e positivas (ainda mais quando elas são quase uma constante) e elevar coisas ruins e negativas que nos acontecem. Assim, aquela pessoa que faz muito por você nunca é notada, a não ser quando erra. Isso é muito comum nas relações de trabalho. Afinal,todos já sentimos em determinado momento que trabalhamos e nos esforçamos muito, mas nunca tivemos o reconhecimento merecido — o reconhecimento só existe no fracasso.
Por notarmos mais os comportamentos e aspectos ruins de nossas relações, guardamos rancor e colocamos quaisquer outras atitudes e acontecimentos em uma espécie de balança emocional em que o lado negativo acaba pesando sempre mais. Isso acontece com quem é traído, por exemplo (e lembro aqui que a traição pode ser com outra pessoa ou — a que alguns consideram ainda pior — a traição da confiança). O perdão, por mais falso e aparentemente fútil que seja, é necessário, uma vez que se trata de um mecanismo que nos permite seguir adiante em nossas relações que foram fraturadas. No entanto, além de não perdoarmos, ainda inibimos qualquer tentativa de reparação.
Pessoas boas demais nunca recebem gratidão. Quando o comportamento normal do indivíduo é de ser caridoso e ajudar a todos como pode, quando o indivíduo é sempre alguém prestativo e pronto para fazer qualquer favor a qualquer hora, ele perde seu valor. Como alguém que constantemente é assim, ele não é mais notado. E se uma vez apenas não ajuda alguém, por qualquer motivo que seja, é crucificado. Quando acostumamos as pessoas a terem todos os seus desejos e exigências prontamente atendidos, elas verão isso como um direito, como algo normal, e se deixamos de cumprir com alguma exigência ou desejo, por mais egoísta ou aproveitador que seja, tornamo-nos nós egoístas e aproveitadores. Acostumar alguém à nossa caridade e boa vontade pode ser um erro e, se fazemos isso, deve ser uma escolha consciente de que quase nunca será algo recíproco.

Por fim, a intimidade pode ferrar com a gratidão. Pessoas muito íntimas dependem de você e pensam que é sua rotineira obrigação estar sempre ali para servi-las.Não agradecem, não veem o que faz por elas e, ao contrário, exigem cada vez mais, cobram e até mesmo reclamam quando você não cumpre com suas expectativas.

Assim como o amor, em minha opinião, é algo que damos sem esperar nada em troca (não pode ser quantificado), o que fazemos de bom pelos outros devemos fazer sem esperar nenhum retorno, sequer um agradecimento ou reconhecimento. Gratidão, assim como empatia, é coisa rara nas relações sociais. Poucos são capazes de ver o esforço do outro.

Vivemos relações egoístas, onde há muita cobrança e reclamação. As pessoas querem sempre mais e quando não estão satisfeitas em suas exigências partem para outros relacionamentos, ou traem. Devemos ter consciência de que quase nunca teremos reconhecimento pelo que fazemos de bom; e que se fazemos algo de bom, isso deve ter mais a ver com o nosso caráter do que com uma busca por gratidão.

Por outro lado, devemos nos esforçar para que nunca deixemos de ser gratos (e de demonstrar claramente esta gratidão) por aqueles que nos ajudam e fazem por nós, por menor que seja a ajuda, por mínimo que seja o ato.

Talvez nunca cheguemos ao ponto de estarmos satisfeitos com o modo como somos reconhecidos e tratados. Talvez nem mesmo mereçamos a gratidão que pensamos merecer. É um assunto cheio de subjetividades. Mas tendo tudo isso que eu disse acima em mente, com certeza podemos melhorar nossas relações neste aspecto e assim passar a exigir menos e a reconhecer mais das pessoas ao nosso redor.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Sobre viajar sem sair do lugar, chuva e Sandman

Era Julho de 2005. O dia estava sombrio: nublado, chuvoso e frio. Coloquei um casaco, peguei minha pasta de mão de couro sintético e um guarda-chuva e saí do escritório para resolver algumas pendências na Prefeitura Municipal. Um pouco antes de chegar, a garoa se transformou em uma tempestade.

Na hora de ir embora, não quis esperar, então abri o guarda-chuva e, apesar do clima, resolvi passar na banca de revistas. Dei uma olhada em tudo e não havia nada de diferente, exceto por uma edição enorme em capa dura, chamada Sandman - Prelúdios & Noturnos. Eu já tinha me deparado com as antigas edições que tinham saído pela Editora Globo e pela Metal Pesado, mas mesmo assim não fazia ideia do que se tratava. Como a HQ estava lacrada, pude apenas admirar a capa e ler a sinopse na contracapa. Lembro até do preço, 60 Reais - o que, na época, era muita grana. Mesmo assim resolvi comprar.

A chuva aumentou ainda mais - a enxurrada cobria a calçada.

Voltei para o escritório, deixei as coisas e fui embora na chuva. Logo que cheguei, tomei um banho demorado e fiz uma caneca de chocolate quente. Ajeitei-me na cama (gosto de ler sentado na cama, apoiado em travesseiros) e abri a HQ. Li do início ao fim, sem interrupções.A chuva como trilha sonora. Fui totalmente sugado para o reino do sonhar por algumas horas.Quando terminei, ouso dizer que eu já não era a mesma pessoa.Exagero dizer isso? Talvez. Mas poucas obras me deixaram tão boquiaberto assim.

Sempre me lembro deste dia. Um dia de chuva, conforto e descoberta. Por conta disso, procurei ler todas as edições de Sandman em dias chuvosos. Isso levou muitos anos, mas consegui.Foi uma das maiores e mais prazerosas viagens de minha vida.

  

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Sobre um banco de praça

Chabouté é um premiado autor de quadrinhos francês. Seu traço, sempre em nanquim, é expressivo e suas histórias são ao mesmo tempo simples e profundas. Entre as minhas preferidas, está Un peu de bois et d'acier (Um Pedaço de Madeira e Aço, no Brasil, é Park Bench, em inglês). Trata-se de uma novela gráfica sem balões ou textos, cujo personagem principal é um banco de praça. Acompanhamos sua história através de décadas: namorados, mendigos, pessoas solitárias, animais e coisas que, mesmo que uma só vez, entraram em contato com o banco. Entre momentos tristes e emocionantes, vemos que um pedaço de madeira e aço é muito mais que isso, ao ser uma testemunha silenciosa e duradoura de muitas histórias.

Ao ler este quadrinho, pensei em meu próprio banco de praça. De modo figurativo, porque não se trata de apenas um banco específico. Às vezes quando passo por um desses bancos eu sento e lembro de longas conversas que tive ali, de sorrisos e trocas de olhares, de desejos, de cumplicidade e momentos delicados e leves. Lembro de tudo. E sim, eu realmente faço isso vez ou outra; sento em um determinado banco e penso em tudo o que passei ali. Penso em quem estava comigo também. Então suspiro, levanto-me e sigo com um sorriso leve.




A Chuva

Choveu bastante em Janeiro. Chove neste exato momento e choverá mais em Fevereiro (é o que dizem os meteorologistas). A chuva sempre me afeta muito. Assim que começa a chover, fico mais confortável e sentimental. Lembro-me de encontros que aconteceram na chuva, de quando protagonizei uma cena digna de um filme de comédia romântica com o John Cusack, das viagens que fiz sob tempestades, de tardes cinzas passadas em Cafés, enfim, lembro de momentos confortáveis, emotivos e significativos de toda a minha vida que tem certa ligação com a chuva. Amo a chuva e amo todos esses momentos. Em minha cabeça, chuva é isso, algo que combina com amor, conforto e ótimas experiências.




domingo, 2 de fevereiro de 2020

Manoel de Barros

Fôssemos merecidos de água, de chão, de rãs, de árvores, de brisas e de graças!
Nossas palavras não tinham lugar marcado. A gente andava atoamente em nossas origens.
Só as pedras sabiam o formato do silêncio. A gente não queria significar, mas só cantar.
A gente só queria demais era mudar as feições da natureza. Tipo assim: Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas da manhã. Ou tipo assim: Nós vimos uma formiga frondosa ajoelhada na pedra.
Aliás, depois de grandes a gente viu que o cu de uma formiga é mais importante para a humanidade do que a Bomba Atômica.





Um poema do incomparável Manoel de Barros, para começar a semana com simplicidade, humor e beleza. 
Leio poemas durante a madrugada; é um bom modo de pegar no sono, entre versos e rimas. E que sonhos eu tenho!

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Rider on the storm

Algo sempre acontece quando viajo de moto: mesmo com o sol a pino, sem nenhuma indicação de chuva, uma tempestade aparece. Já encarei uma muito parecida com a da foto abaixo, com raios caindo ao meu redor em um barulho ensurdecedor, chuva forte e ventania. Eu não tenho medo e não paro para esperar que passe. Na verdade, adoro viajar na chuva. Abro um sorriso na rodovia quando vejo tudo negro à frente. Entro com tudo na chuva e viajo assim sem problemas, leve o tempo que levar.

Como canta Gessinger: Hoje o céu está pesado//Vem chegando temporal. E mais uma vez vou pegar a estrada. Com um sorriso no rosto. E isso não tem nada a ver com o destino. A viagem em si é a realização.


quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Um sonho e um bom dia


Sonho 

Estava em uma espécie de camping ou algo do tipo. Andava pelas redondezas, examinava os detalhes da natureza. Mas logo eu precisava ir para alguma cidade, e uma tia me deu carona. ela dirigia de uma forma muito lenta e atenciosa. 

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Cheguei na cidade e uma amiga me disse: "conversa com ela. Ela tem a cabeça meio complicadinha e cheia de coisas, mas vai adorar te ver. Vai fazer bem pra ela". Ela estava no sofá, lendo algo impresso em papel sulfite, e não me viu chegar. Olhei por cima das folhas e ela sorriu. Então deitei ao seu lado, peguei as folhas e comecei a ler com uma voz engraçada. Ela se aninhou em mim, com um sorriso no rosto, e ficamos assim até o sonho acabar. 


Um bom dia

Acordei e desliguei o alarme do telefone. Vi que tinha algumas mensagens de uma pessoa com a qual nem tenho intimidade ou muito contato. Ela me elogiou. Algo assim, simples e totalmente inesperado, às vezes é tudo o que precisamos para começar o dia bem.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Algumas músicas são maiores do que a vida

Às vezes demoramos para notar isso. Às vezes ouvimos a mesma música por anos, até que um dia a epifania acontece. Então passamos a ter a certeza e ver com clareza que tal música é de fato maior do que a vida. Isso me acontece de tempos em tempos. Neste ano de 2019 aconteceu duas vezes. Falarei aqui sobre a música da segunda ocasião. A música é “The Last Time I Saw Richard”, da Joni Mitchell.

Ouço “Blue” desde que me entendo por gente. E desde a primeira audição, sempre achei um dos maiores álbuns músicais já feitos. Como disse Renato Russo, na introdução do cover feito para o Mtv Acústico da Legião Urbana: é uma das maiores poetas do rock’n roll e é uma letra seríssima.
O álbum de 1971 é como uma viagem por diversos sentimentos, mas sempre com um tom melancólico (o título da obra não se refere a uma cor, afinal). Desde o começo, com “All I Want”, até o encerramento com “The Last Time I Saw Richard”, às vezes enfrentar uma audição detalhada e atenciosa pode ser uma quasi-tour-de-force, principalmente se você for uma pessoa mais empática ou com tendência a ficar “na bad” depois de apreciar uma obra densa. Ao longo dos anos as minhas músicas preferidas mudaram. Lembro bem que minha primeira preferida foi “All I Want”. Depois de alguns anos passou a ser “River” e, ultimamente, era “A Case Of You” (que continua a ser uma das mais belas composições da música pop!).
Sempre encarei “The Last Time I Saw Richard” como aquela música que a Legião Urbana tocou. Por isso, e por ser a última composição do lado B, ela nunca chamou minha atenção. Até agora.
Após uma introdução ao piano, Joni canta:

The last time I saw Richard was Detroit in ‘68 // And he told me // all romantics meet the same fate someday // Cynical and drunk and boring someone in some dark cafe // You laugh, he said you think you’re immune, // go look at your eyes //They’re full of moon // You like roses and kisses and pretty men to tell you // All those pretty lies, // pretty lies // When you gonna realize //they’re only pretty lies//Only pretty lies, just pretty lies…

E isso me atingiu como um soco. Tornei-me Richard, afinal. Ou pelo menos tive o destino que, segundo ele, os “românticos” tendem a encarar algum dia. Como alguém que lia Goethe e fantasiava vidas inteiras com garotas que me diziam “oi” com um sorriso aos 16 anos de idade, creio que tenho propriedade para falar sobre o assunto.
Nada mais natural do que, com o passar dos anos e com as experiências, abandonar o romantismo e notar que a vida real não pode ser fantasiosa, perfeita ou trágica. No entanto, para alguém que afundou sua juventude em poetas e escritores românticos, quase não há alternativa a não ser trocar tudo isso por uma visão cínica, fria e realista sobre qualquer relacionamento. Mas a letra da canção segue:

He put a quarter in the Wurlitzer, and he pushed //Three buttons and the thing began to whirr //And a bar maid came by in fishnet stockings and a bow tie //And she said drink up now it’s gettin’ on time to close //Richard, you haven’t really changed, I said //It’s just that now you’re romanticizing some pain that’s in your head //You got tombs in your eyes, but the songs //You punched are dreaming //Listen, they sing of love so sweet, love so sweet //When you gonna get yourself back on your feet? //Oh and love can be so sweet, love so sweet…

Ao não mais romantizar relacionamentos, passei a romantizar a dor, o vazio e a frustração que ocorriam com a falta deles (ou por causa deles). No entanto, se ninguém consegue ser feliz o tempo inteiro, ninguém também consegue ser uma pessoa amarga o tempo todo.
Por isso, apesar de tudo, continuei (continuo) a me cercar de belas obras. Afinal, os poetas românticos ainda são impecáveis, as pinturas de Turner, R. Wilson, Konstantinovich e tantos outros ainda evocam profundos sentimentos e sensações e todos os clichês e repetições da música pop ainda me arcertam em cheio a cada nova canção de amor.

Na real, não dá para seguir sem estas coisas. É por isso que em todo natal revejo “The Shop Around The Corner” e ainda me emociono. Precisamos disso – por mais que isso seja apenas uma romantização cafona e efêmera.

Richard got married to a figure skater/And he bought her a dishwasher and a Coffee percolator//And he drinks at home now most nights with the TV on//And all the house lights left up bright//I’m gonna blow this damn candle out//I don’t want Nobody comin’ over to my table//I got nothing to talk to anybody about//All good dreamers pass this way some day//Hidin’ behind bottles in dark cafes//Dark cafes//Only a dark cocoon before I get my gorgeous wings//And fly away//Only a phase, these dark cafe days.

São fases, afinal. Em um dia acreditamos no amor como a única salvação. No outro, somos cínicos bêbados e entediantes. Mas há uma constante, sempre a mesma, sempre necessária e real: a arte. E foi assim que “The Last Time I Saw Richard” se tornou a minha canção preferida do álbum. Uma canção maior do que a vida.


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sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Resoluções de ano novo



Nunca fiz este tipo de coisa. Nesta passagem de ano foi a primeira vez que realmente me dei ao trabalho de criar objetivos, metas e caminhos para o ano novo. Não pensei em muitas coisas - porque cumprir mesmo poucas resoluções pode ser algo difícil. Bem, vamos a elas:

1 - trocar meu veículo. Tenho a mesma moto há 12 anos. Visualmente ela está feia: suja, com alguns amassados e falhas na pintura. Mas  não me importo com isso e o que importa está novo. Troco o óleo, uso somente combustível de confiança e eu mesmo faço revisões periódicas. Mas minha moto é pequena, e isso dificulta longas viagens (dificulta, mas não impede). Ainda não sei se pego uma moto maior ou um carro. O mais importante eu já consegui, que é o valor. Enquanto não decido, junto mais uma grana enquanto espero. 

2 - praticar exercícios. Bem, não é uma resolução tão nova, uma vez que tem mais de 2 anos que faço musculação. A novidade/resolução diz respeito a exercícios aeróbicos. Comecei bem de leve. Mas está dando certo.

3 - dedicar mais tempo e atenção a mim mesmo. Esta é a resolução mais importante. Eu parei de correr atrás de pessoas que não se esforçam pra estar comigo. Antes, se alguém me chamava para fazer algo, eu sempre topava, mesmo sem vontade. Agora, aprendi a dizer não. Aprendi a fazer o que realmente quero. Em vez, por exemplo, de viajar debaixo de chuva por mais de uma hora para estar com alguém que pouco se importa comigo, estou aqui em meu quarto, deitado confortavelmente em minha cama. Amanhã acordarei cedo para me exercitar. Vou rever uma pessoa que é uma grande amiga à noite. E durante o dia quero ler muito. E isso não poderia me deixar mais feliz. A partir deste ano vou viver assim, fazendo só o que quero, o que me faz bem, e vou deixar as chateações e prováveis decepções de lado. Não gosto de pensar no quanto já me sacrifiquei para agradar certas pessoas. Mas pelo menos agora (sim, a palavra da vez é "agora") eu mudei. 

Resumindo: o ano mal começou e eu já consegui cumprir minhas resoluções. Este ano tem tudo para ser um grande ano. E será.