quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Lembrança de uma viagem para F* (SP)

 Início de 2008. Uma banda de surf rock, chamada The Dead Rocks, iria tocar na cidade de F*/SP. Cheguei no começo de uma tarde de sábado. Na rodoviária, liguei para a pessoa que tinha combinado de encontrar comigo e ela não atendeu. Tive uma micro-crise de ansiedade e fiquei sem saber o que fazer. Devo ter ligado umas 20 vezes seguidas. Logo, a pessoa chegou e avisou que não atendeu porque o telefone estava com problema e ela estava dirigindo. Fiquei envergonhado. Mas deu tudo certo.

Já em casa, ela foi se arrumar pra gente sair. Fiquei sozinho na sala. Uma amiga dela, que morava junto, chegou, cumprimentou-me (já sabia quem eu era), sentou em um puff ao meu lado e começou a conversar como se já me conhecesse. Eu não a conhecia e foi nosso primeiro contato. Após dois minutos de conversa, decidi que estava apaixonado. Assim, do nada, à primeira vista, no alto dos meus 20 anos.Nunca esqueci disso. Senti-me muito bem por causa dela. Era uma pessoa agradável (ainda é!)!

Saímos para comer algo em uma lanchonete natureba com um dono nerd (até hoje guardo a filipeta com uma propaganda estranhamente engraçada do local) e  depois fomos a um show em uma praça. Lá, tive um encontro com uma pessoa que realmente detesto. Mas ocorreu algo bizarro: conversei com o cara por horas, andamos juntos e tal. Só fui ligar o nome à pessoa e ver que era quem eu detestava depois, quando minha amiga contou (algo que carece de uma explicação mais detalhada, que não darei aqui). Senti-me um palhaço na hora. Mas, por fim, fomos ao show.

Era um lugar simples com um terreno espaçoso, onde a banda tocava. A noite foi agradável. No dia seguinte acordei cedo e peguei o primeiro ônibus de volta para a minha cidade. Foi um fim de semana memorável.

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Lembrança de uma noite em um Café, por volta de 2009

 Chegamos cedo. Era um domingo de inverno. Fazia frio e ventava. Aconchegados em nossos agasalhos, bebemos expressos, masalas chai e cappuccinos. Não contei, mas creio que, juntos, bebemos umas 10 xícaras variadas. A conversa nunca tinha fim. Sorríamos e falávamos e ouvíamos com a mesma vontade e interesse. Ficamos assim por mais de quatro horas. O Café estava fechando. Fomos embora sem querer ir embora. Levei-a até na porta de casa. Ela me deu um abraço muito demorado. Depois, sem se soltar do abraço, encarou-me de perto. Dei um beijo em seu rosto e desejei boa noite. Foi a última vez que a vi.

 Chove. E quando chove eu penso em nós. Num Café qualquer. Dois expressos dividem o espaço com nossos celulares e nossas mãos. Conversamos. Com apreensão e certo nervosismo no começo. Mas também com afeto e sinceridade. Eu te conto dos meus quases, dos meus aindas, e você me conta dos seus. Muita coisa mudou. Dois estranhos? Nem tanto assim. A chuva aumenta. Você olha as horas no celular. Eu olho a chuva lá fora. Queremos ir embora? A situação está desconfortável? Talvez. Bebemos mais um café, cada. A conversa diminui. Há constrangimento no ar. Pagamos a conta e saímos. Ali, na entrada do Café, antes de cada um tomar seu rumo até talvez quem sabe nunca mais, nos abraçamos. E nenhum dos dois deixa esse abraço acabar.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

A Câmara Clara, livro de Roland Barthes sobre a essência da fotografia, me marcou profundamente. A escrita poética do autor, ao mesmo tempo profundamente técnica e filosófica, me encantou. E tem um trecho que martela em minha cabeça até hoje. Apenas uma linha:


La vie est ainsi, faite à coups de petites solitudes.