segunda-feira, 22 de junho de 2020

A primeira tarde de inverno

Não fez frio, mas a temperatura estava agradável. Saí de casa às 15:00h, após lavar e lubrificar a moto. O trajeto foi  de apenas 30km, por uma estrada já bem conhecida e rodada. No entanto, mesmo um passeio curto assim é capaz de surtir efeito. Em casa tudo estava estranho e eu estava irritado e impaciente. Saí da cidade e, assim que peguei a primeira reta na rodovia e acelerei até 150, 160, tudo magicamente sumiu. Toda a raiva e impaciência.

O vento em meu rosto, o barulho do motor, a adrenalina, tudo passando rapidamente... Eu não pensava em nada. Apenas acelerei até o meu destino.

Uma vez lá, parei a moto em uma entrada da estrada e fiquei ali, totalmente em paz, vendo o primeiro pôr do sol do inverno com um sorriso de satisfação no rosto. Creio que seja isso que querem dizer quando associam moto à liberdade. Dirigir uma moto é zen. E quem é que tem tempo para ver pôr do sol hoje em dia? Quem tem paciência? Esses momentos simples e sublimes têm se tornado cada vez mais raros, assim como as pessoas capazes de apreciá-los.




sexta-feira, 5 de junho de 2020


Sobre ser uma pessoa sombria, pessimista e negativista

Sei que algumas pessoas me veem assim. Sempre reclamando de tudo: das pessoas, da sociedade, da política, com uma visão de mundo pessimista e negativista. "Pense positivo!", "tenha boas vibrações", "acredite no futuro", "tenha fé nas pessoas", "agradeça por tudo todos os dias" e por aí vai. Já li e ouvi isso em relação a mim.

Ser good vibes, buscar forçadamente essa alegria constante de viver e existir é algo inatural. É baboseira. É alienação. Seres humanos tem altos e baixos, tem bons e maus momentos, dias de alegria e dias de tristeza. Tudo isso faz parte do pacote e negar isso é negar a própria natureza e a própria existência. Nós sentimos raiva, ódio, amor, afeto, indiferença e tudo o mais ao mesmo tempo. Mas poucas são as pessoas que têm a coragem necessária para encarar o próprio abismo, os cantos escuros de si mesmos. Mas não eu.

Na prática, penso que sou feliz. De bem comigo mesmo e com tudo o mais. Sou um bom companheiro, sou fiel, confiável e faço sempre todos ao meu redor rirem e procuro sempre deixar tudo o mais leve possível. Não finjo afeição por pessoas que abomino. Não consigo ser falso com ninguém. Não preciso de religião ou religiosidade, sequer acredito em algo. Isso às vezes assusta as pessoas.

Mas, de onde vem essa ideia de que eu seja um homem sombrio? Talvez do fato de que eu não esconda este lado meu. Quando as pessoas veem isso, elas se afastam. Não concordam. No atual momento que vivemos no país, por exemplo: quem não está puto com tudo ou é um fascista dos infernos ou é um alienado estúpido. Eu não passo pano pra ninguém, não aceito condutas abjetas e não olho para o outro lado quando presencio alguma injustiça. Sei que não vou mudar o mundo, mas no que depender de mim, sempre farei o que é certo.

E, por fim, se por um lado alguns se afastam porque me acham uma pessoa sombria, pessimista e negativista, por outro eu evito pessoas que são felizes o tempo inteiro, sempre sorrindo e agradecendo a deus e ao sol nas redes sociais. Pela minha experiência, esse tipo de pessoa é extremamente mal resolvida e infeliz. Quero ao meu lado pessoas reais, com sentimentos reais e naturais, que não evitam a si mesmas e nem nenhum aspecto de sua personalidade, por mais sombrio que seja.