sexta-feira, 16 de junho de 2023

16/06/2023

    Há um sentimento que não sei dizer ao certo o nome, algo bom que sinto quando vivo sem depender de ninguém. Entende? Digo, depender de qualquer modo, em qualquer situação ou circunstância, para qualquer finalidade. Não é fácil de explicar: é uma espécie de conforto que tem origem na certeza de que depender somente de mim mesmo não me trará frustração ou raiva nem nada do tipo. É saber o do meu próprio limite, da minha própria capacidade e da minha real vontade.
 

Não se trata de um simples mecanismo de defesa ou de inaptidão social, mas de uma constatação que advém da experiência.

    Corte para a segunda pessoa: você marca um encontro e a pessoa não vai ou desmarca em cima da hora. Você delega uma tarefa no trabalho e ela não é feita. Você depende de alguém para fazer algo e essa pessoa não desenvolve o que deveria e como deveria. Você investe tempo e dinheiro e carga emocional em um relacionamento que só te suga e que não te dá nenhum retorno em nenhum aspecto. Você mais o outro é igual a você frustrado. Não sempre, não com todos, mas quase sempre e com quase todos. A medida da frustração é a mesma medida do quanto dependemos do outro.

    Volta à primeira pessoa: vou ao cinema, às cafeterias e restaurantes, leio meus livros, faço meu trabalho, quase sempre só. Sem me sentir mal por isso, mas bem ao contrário: sinto-me ótimo, confortável e tranquilo por passar muito tempo comigo mesmo. O lado ruim, ou nem tão ruim assim, é que cada vez mais quero passar menos tempo com qualquer pessoa.

 Sexta-feira. No escritório. Chove. Ouvindo Iron and Wine (Cold Town). Normalmente, isso seria um momento de tranquilidade e conforto. Mas não é. Não hoje.