quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Sobre solidão

 A vida inteira eu lidei muito bem com a solidão. Nunca fui de ficar chorando ou reclamando sobre isso. E sempre tive o cuidado de não depositar a solução para minha solidão em alguém. Não posso preocupar meus pais com isso; eles já se sentem suficientemente sozinhos. Relacionamentos quase nunca são a solução - ou muitas pessoas casadas não se sentiriam tão miseravelmente solitárias.  O que fazer, então?

Geralmente vivo bem comigo mesmo. Vejo meus filmes e séries. Leio bastante.  Escrevo. Perco tempo na internet. Ouço música por horas a fio. Preparo alguma receita, arrumo algo na casa, brinco com meus gatos. Quando, ainda assim, sou acometido de certo desespero, pego minha moto e saio por aí. Às vezes levo alguma cigarrilha. Paro em algum lugar, fumo sem pressa e volto. Já em casa, aquele momento mais agudo do desespero de ser só some.

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Já tentei ir a bares nessas horas. Mas às vezes é pior. Hoje, por exemplo, fui a um bar que muitas vezes está vazio, sem nenhum cliente. Geralmente eu converso com o dono, bebo algumas cervejas e fico algumas horas por lá. Mas hoje este bar tinha uma mesa com uns cinco ou seis homens. Entre si, alguns conhecidos, poucos amigos. Mas o que unia todos naquela mesa era a solidão, que pairava em volta como uma nuvem cinza prestes a chover. Eu não consigo entrar nesta espécie de grupo, eu me recuso a fazer parte de algo assim - vejo tudo como uma cena patética. No entanto, paradoxalmente, nessas horas sempre penso que gostaria de estar ali, de fazer parte desta entrega momentânea, desta união contra a solidão, sem me preocupar em ser mais um personagem patético e desesperado. Mas não consigo mesmo. 

Distante do grupo eu bebi uma cerveja e fumei duas cigarrilhas. Já passava das dez horas da noite. Então saí de moto sem rumo e, de maneira quase inconsciente, passei por ruas e praças e avenidas cheias de lembranças. Demorei meu olhar em algumas casas, bancos de praças, calçadas e locais. Momentos que vivi na companhia de pessoas caras a mim, pessoas que uma vez foram tão íntimas e queridas. Depois desta tour de nostalgia, rumei para a casa. E posso dizer que o desespero de ser tão só mais uma vez se foi. Por enquanto.

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Sei lá. Tenho visto tanta gente legal tão sozinha. Homens e mulheres. Desesperados para amar alguém e para serem amados. Desesperados por amigos, por mais conversa, olho no olho, toque e afeto. Isso faz muita falta, sabe. No fim das contas todos nós só queremos isso. Alguém que nos tire da solidão. Mas quem?

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