quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Sobre viajar sem sair do lugar, chuva e Sandman

Era Julho de 2005. O dia estava sombrio: nublado, chuvoso e frio. Coloquei um casaco, peguei minha pasta de mão de couro sintético e um guarda-chuva e saí do escritório para resolver algumas pendências na Prefeitura Municipal. Um pouco antes de chegar, a garoa se transformou em uma tempestade.

Na hora de ir embora, não quis esperar, então abri o guarda-chuva e, apesar do clima, resolvi passar na banca de revistas. Dei uma olhada em tudo e não havia nada de diferente, exceto por uma edição enorme em capa dura, chamada Sandman - Prelúdios & Noturnos. Eu já tinha me deparado com as antigas edições que tinham saído pela Editora Globo e pela Metal Pesado, mas mesmo assim não fazia ideia do que se tratava. Como a HQ estava lacrada, pude apenas admirar a capa e ler a sinopse na contracapa. Lembro até do preço, 60 Reais - o que, na época, era muita grana. Mesmo assim resolvi comprar.

A chuva aumentou ainda mais - a enxurrada cobria a calçada.

Voltei para o escritório, deixei as coisas e fui embora na chuva. Logo que cheguei, tomei um banho demorado e fiz uma caneca de chocolate quente. Ajeitei-me na cama (gosto de ler sentado na cama, apoiado em travesseiros) e abri a HQ. Li do início ao fim, sem interrupções.A chuva como trilha sonora. Fui totalmente sugado para o reino do sonhar por algumas horas.Quando terminei, ouso dizer que eu já não era a mesma pessoa.Exagero dizer isso? Talvez. Mas poucas obras me deixaram tão boquiaberto assim.

Sempre me lembro deste dia. Um dia de chuva, conforto e descoberta. Por conta disso, procurei ler todas as edições de Sandman em dias chuvosos. Isso levou muitos anos, mas consegui.Foi uma das maiores e mais prazerosas viagens de minha vida.

  

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