Eu estava em uma grande cidade. Em um local com muitos bares e restaurantes. Sabia que você estava por ali. Mas procurei, procurei e não te achei.
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Estávamos juntos, andando pra lá e pra cá. Conversávamos com tranquilidade e certo constrangimento.Como crianças que acabam de se conhecer.
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Peguei um elevador, e quando a porta se abriu eu estava dentro de uma loja de departamentos que dava para um calçadão e uma praça. Dali, caminhei para a esquerda e comi em um restaurante. Depois, fui procurar uma casa do lado direito. Bati, mas ninguém me atendeu. No caminho, conversei bastante com o taxista.Era perigoso andar por ali, ele disse. Mas não tive medo.
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A cidade era um lugar bonito, com alamedas e praças. Tirei fotos e você estava ao meu lado.Sorríamos com leveza, um sorriso de quem não tem pressa e não tem outro lugar que queria estar.
Não
é uma foto bem produzida. Apenas coloquei o livro ali do lado e pousei o
cachimbo por um momento, para escrever este texto verborrágico.
Não
me lembro qual foi a última vez que tive um momento assim. De
tranquilidade e descanso. O tempo livre que tenho é para descansar, mas
como vivo cansado, nunca consigo aproveitar muito bem. Durmo muito e, ao
fim de cada domingo, sinto apenas que recarreguei as energias o
suficiente para encarar a próxima semana. Parece que nada nunca rende,
nada se desenvolve de uma maneira satisfatória.
Nestes
dias de isolamento social, usei o último fim de semana para descansar.
Sem trabalho. na segunda, passei o dia lendo (e terminei um livro
inteiro).
Hoje,
neste fim de tarde, fiz um café forte. Sentei nas escadas da porta da
frente da casa, piquei uma porção de fumo de corda, abasteci o cachimbo e
dei algumas tragadas preguiçosas, ao som de Sulfjan Stevens. Li um
conto do Caio; mais algumas tragadas. Sem propósito, sem pressa e sem
nenhum cansaço.
Eu poderia viver uma vida inteira assim, como um hobbit, ociosamente
entocado entre cachimbos e livros. Apenas vendo a tarde passar…
Quero dizer, não sou bom em lidar com elas. Não sei conversar, puxar assunto ou manter um diálogo interessante. Quanto menos conheço a pessoa, mais dificuldades tenho em me relacionar com ela. Quando eu era adolescente eu atribuía isso à timidez. Depois de adulto, descobri que não era isso.
Sou uma pessoa muito intensa e não consigo manter conversas frívolas ou superficiais. No dia a dia é penoso ter que aturar este tipo de contato. Em um âmbito mais pessoal, procuro estar sempre com amigos íntimos. Não gosto de grupos nem de lugares com muitas pessoas. É isso.
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Uma coisa maravilhosa sobre amizade é que ela não perde sua força, mesmo quando as pessoas perdem o contato. Vi um cara na rua hoje que ia muito em minha casa há uns 15 anos. Distanciamo-nos naturalmente; acontece. Cada um seguiu seu rumo. E ao vê-lo, em alguns segundos estávamos conversando com a mesma naturalidade e intimidade de 15 anos atrás. Isso me deixa feliz. Convidei ele para me fazer uma visita.
Por outro lado, às vezes me incomoda - mesmo que isso seja normal - quando pessoas que já foram tão próximas, íntimas e presentes se tornam estranhas. Tudo fica esquisito. Como se houvesse uma parede, um tabu ou algo invisível que impedisse a reaproximação. Respeito e nunca tento me reaproximar nestes casos, nunca forço nada. Mas fico naquela nostalgia ao ver essas pessoas, e com um ponto de interrogação na cabeça. Sim, eu gostaria muito de me reaproximar. Mas não sei como.
[Apenas um pequeno complemento sobre o post anterior]
Tendo em vista a solidão como algo inerente ao ser humano, tendo em vista nossa luta diária para lidar com isso, eu tento ser uma pessoa que emana amor. Com franqueza, sem interesse, sem motivo, tento sempre mostrar isso ao mundo. Procuro deixar as pessoas com as quais em cruzo sempre com um sorriso leve no rosto e uma sensação boa. Sei que é insignificante perante o vazio, o acaso e a falta de sentido de tudo. E não faço isso porque é algo que é gratificante para mim - como um introspectivo, um introvertido, qualquer tipo de interação me cansa e esgota rapidamente. Faço isso porque penso que, nem que seja por um breve momento, as pessoas que passam por mim podem se sentir leves e tranquilas e, quem sabe, por um brevíssimo momento, seu fardo pode pesar menos. Se eu pudesse ter um verdadeiro papel em minha vida, seria esse: de ser o que traz a leveza aos outros, mesmo tendo em si todo o peso do mundo.
A vida é estranha. Um dia está tudo bem. Tudo perfeito. No outro, nada está bem. Qualquer aspecto da vida de qualquer pessoa pode mudar com muita rapidez. Para melhor ou pior. Um emprego novo, uma morte inesperada, o fim de um longo relacionamento, o começo de um novo relacionamento, uma mudança de casa, uma nova amizade, o fim de uma antiga amizade. Qualquer coisa. A qualquer momento.
Somos fortes perante as adversidades. Procuramos um sentido para tudo. Deus. Espiritualidade. Pseudociência. Tentamos entender a mente, saber como reagir, suportar, lidar. E seguimos em frente. Claro, entendo que uma pessoa ou outra não consegue. Mas são exceções - e respeito muito quem tem a coragem necessária para desistir. Enlutados, solitários, confusos, tristes, miseráveis, presos, sufocados, seguimos.
A vida é estranha e solitária. Solidão é um aspecto inerente à vida. Mas é algo que pouquíssimas pessoas ousam encarar, mesmo que só por algum momento. Todos somos criaturas extremamente solitárias e buscamos todo o tipo de panaceia para isso. Mas não há religião ou relacionamento que nos livre de nossa solidão. Alguém pode dizer "eu não concordo. Eu não me sinto assim." Mas sabemos que isso será uma mentira. A solidão, em última instância, vem da falta de lugar no mundo. Da falta de propósito. Quanto mais a pessoa entende dos mecanismos da existência, da rotina, das pessoas e do que é realmente viver, mais sozinha ela se sente. Há quem encontre conforto na espiritualidade e em qualquer religião. É, ao meu ver, um tipo de enganação que só pode ter um dos dois motivos: por ignorância ou por fraqueza. Ignorância no sentido de acreditar piamente em tudo sem nunca contestar e tirar daí sua força. E fraqueza por não querer transcender o fino véu do conforto religioso e espiritual e encarar o vazio adiante.
Há também quem encontre conforto em outra pessoa. Acredito que este tipo de solução para a solidão seja mais benéfico do que a anterior, porque uma outra pessoa pelo menos existe e não é um apanhado de mentiras loucas usadas para enganar, persuadir e controlar as pessoas. Isso é, se o relacionamento for saudável. O problema é que pessoas vem e vão. Portanto, quem busca esta fuga para a solidão, ou passa de um relacionamento para outro e encontra o maior amor da vida todo ano em uma pessoa diferente, ou se sente extremamente e eternamente sozinho por ter perdido este amor. Claro, eu sei que a maioria das pessoas encaram relacionamentos como são, apenas relacionamentos, e não como uma salvação (deixo aqui um parêntese de peito aberto e deveras constrangido: vejo essas histórias de casais juntos há décadas e décadas e décadas que ainda se amam e convivem bem até o fim de seus dias e meu coração se enche de ternura e amor. Eu ainda realmente acredito em algo assim. É raro e mágico, mas existe. Sim, eles ainda têm a solidão em suas vidas. Mas, em momentos extremos sabem que têm um ao outro).
Sou 100% funcional, como qualquer pessoa normal. Trabalho, faço minha academia, tenho meu círculo social, meu relacionamento. Viajo sempre que posso, visto-me bem, uso perfume, faço a barba, uso até gravatas e cachecóis, evito conflitos desnecessários, discussões, tento resolver tudo através de muito diálogo, enfim, cuido de meu exterior e de meu interior. Tento manter a sanidade e seguir em frente. E até o momento, creio que tenho me saído muito bem. Minha vida tem caminhado para a frente - não como planejei, mas mesmo assim, adiante.
No entanto, há a solidão. Fui uma pessoa solitária por toda a minha vida. Por evitar amizades superficiais e que não acrescentam em nada, por evitar amizades que existiam apenas para que eu não me sentisse sozinho, sempre convivi com a solidão. Algumas vezes ela é reconfortante, porque sei lidar com ela. Mas em outras ela é pesada, densa e sufocante.
De um dia para o outro tomei um golpe neste sentido. Sem planejamento. Sem aviso. Apenas aconteceu. E agora, a solidão que era apenas neblina virou granizo - e chove em mim. Por quanto tempo, não sim. Sei que continuarei. Sou resiliente. Só eu sei os demônios que já enfrentei, os leões que já matei. Mas confesso: não é fácil viver em solidão, com esse nó na garganta e esse ímpeto de se isolar cada vez mais. Nunca foi fácil. E agora viver assim ficou ainda mais pesado e denso. Este é o meu fardo, o da solidão. E, mais ou menos pesado, é o fardo que todos nós precisamos carregar.
*Escrevi este texto usando como trilha sonora algumas das fugas de Bach. Dizem que Beethoven foi o maior. Wagner, o mais épico. Mozart, o mais genial e ousado de seu tempo. Encontro em Arvo Part a melancolia que tenho em mim, mas nem sempre consigo encará-lo. Mas Bach não emana em suas músicas um aspecto da vida, seja ele emocional ou técnico. Bach transcende a própria vida. E o que há depois da vida? O divino. Encontro meu Deus, minha espiritualidade, na música. E a música que chegou mais perto dos céus foi a de Bach. Ele me ajuda a seguir em frente. Coloco meus fones e durmo com uma sensação de estar abraçado com Deus. Um Deus verdadeiro, sonoro, que vive na música. (no vídeo abaixo deixo um arranjo da "Pequena Fuga" para orquestra, feito pelo maestro Stokowski).
Eu sei, isso parece lema hippie ou nome de música sertaneja. Eu sei. Mas não há outro modo tão simples e sincero de dizer isso.
Nestes dias de feriado carnavalesco viajei para uma cidade um tanto maior do que a minha. Não fiz nada fora do normal.Fui ao shopping comprar roupas (e até me dei ao luxo de adquirir um perfume francês de uma marca inglesa que queria há tempos), fui também em restaurantes e pubs. Entre o hotel (confortável e com um gigantesco café da manhã) e os lugares que fui, entre um táxi e outro, choveu todo o tempo. O céu sempre cinza, com ventanias eventuais e uma chuva que variava entre garoa e tempestade.
Foram dias perfeitos. Dias de tranquilidade absurda, de paz e conforto. Dias que passei com sorriso no rosto e com a cabeça nas nuvens. Recarreguei minhas energias e estou pronto para encarar a realidade novamente e por um bom tempo.
E foram dias de amor. Não tenho (nunca tive) problema em fazer as coisas sozinho. Vou a restaurantes, viajo e passo grande parte dos meus dias fazendo tudo o que preciso e quero sozinho. Mas estar com alguém em uma viagem assim, com alguém que me ama e que é amada por mim, é algo único, que potencializa todas as boas sensações da viagem. Tomar um espresso vendo a chuva cair do outro lado da vitrine com ela ao lado, passear por aí de mãos dadas como dois adolescentes enamorados, beber em pubs rústicos e comer em restaurantes desconhecidos, caminhar por ruas vazias, entrar em uma loja qualquer para experimentar uma roupa, rir da programação da TV do hotel... Tudo isso fica colorido e leve, contrastando com o tempo lá fora, quando estou com ela. Pintamos arco-íris por onde passamos.
"Pense Mary, se estivéssemos caminhando por um belo campo, num dia lindo, quente, e — de repente — fôssemos colhidos por uma tempestade no meio do passeio.
Que maravilha seria! Existe emoção maior que ver os elementos produzindo força e energia, através do movimento nos céus? Vamos deixar para trás as quatro paredes de nossos quarto, Mary.
Vamos andar por lugares solitários, e conversar um pouco. Eu [...] posso entender a mim mesmo quando comento algo com você. Eu já disse isso antes, e repetirei sempre."
É possível, claro, expressar qualquer sentimento através de palavras. Mas e quando o sentimento pede para ser usado, expressado por si mesmo? E quando não conseguimos ou podemos fazer isso, por incapacidade, falta de coragem ou mesmo falta de um alvo/objeto/ser? Todos temos cofres mentais com sentimentos guardados, esperando para serem usados.
Eu cansei de falar de amor, de afeto e de coisas afins. Seria bom se eu pudesse praticar isso, usar. Realmente sentir. Mas, por enquanto, tudo o que posso fazer é escrever e falar sobre alguns sentimentos.