terça-feira, 5 de maio de 2009

(uma quase) Carta a meus pais


O fato de não gostar de vocês faz de mim uma má pessoa? Essa questão me atormenta às vezes.

Vocês vivem em inércia. Só comem e dormem e trabalham e comem e dormem e trabalham e não pensam e nem fazem mais nada.

Moro numa pequena casa que precisa de ''N'' reparos e acabamentos. Está feia, como que abandonada. Quando falo com vocês à respeito disso, sempre ouço as mesmas respostas. Um diz que ''no futuro, se deus quiser, tudo vai melhorar''. O outro só berra e joga coisas na minha cara (''eu já te sustento e você vem me chamar a atenção!'', ''tem mais é que se contentar (com o nada) que tem''), e os dois sempre dizem também: ''se não gosta daqui, junte suas malas e tome o seu rumo''.

Sinto-me mal no lugar onde vivo e não tenho pra onde ir. É sufocante.

Sou uma má pessoa por querer mudar para o lugar para o lugar mais distante possível de onde nasci? Por desejar não voltar nunca mais? Por não ver a hora de romper todos os laços com a vocês para sempre?

Penso em construir um lar; um lugar confortável onde eu possa ler meus livros, ver meus filmes e ouvir minhas canções em paz, onde possa receber amigos. Depois que me tornei adulto, a casa onde moro deixou de ser o meu lar. Passou a ser apenas um lugar onde posso deixar minhas coisas.

Penso em morar com alguém que faça-me sentir confortável e que faça-me sentir em casa de novo. Afinal,esse novo conceito de lar que tenho que criar não é só um ''lugar'' novo.

Penso muito, penso demais. Penso até quando (se) terei filhos. Quero dar toda a proteção, carinho, conforto e conhecimento que vocês nunca me deram. Só tem uma coisa pela qual agradeço-os profundamente. Pelo mal exemplo em tudo. Obrigado mesmo. Nunca serei como vocês. Não os amo.


Lucil Jr.

2 comentários:

Jean Carllo disse...

Kafka ficaria emocionado com tal relato... Bela, muito bela a sinceridade com a qual você escreve. Isso sim é arte.

May disse...

é, Lucil, eu entendo você. mas cara, logo você vai poder fazer isso xD e vai ser melhor do que imagina