quarta-feira, 18 de novembro de 2020

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Sobre um amigo que se foi

 Há cerca de 6 anos ele apareceu. Magro e assustado. Um gato preto, já velho, que provavelmente sofreu por toda a sua vida. Em minha casa encontrou alimento e amor, além de amigos felinos. Ficou conosco por todo este tempo. Era arisco e só comia carne. Não demos um nome. Como era selvagem, respeitamos sua condição e o chamávamos de gato preto, negão, pretinho e outros apelidos semelhantes.

 Há uns 3 meses ele adoeceu e tratamos no veterinário. Neste fim de semana ele novamente ficou ruim, corremos para cuidar, mas ele não resistiu. Sei que fiz o que pude, mas ainda assim, a sensação é de que poderia e deveria ter feito mais. Sinto que perdi um amigo.

 Os outros gatos estão sentindo a ausência dele. Eu também. Cheguei em casa ontem e não o vi deitado no canto de sempre. Ele não esperou por carne na porta da cozinha na hora do almoço. Sua casinha estava vazia. Tento justificar a sua morte: ele estava muito ruim, com vários problemas de saúde. Descansou. Mas, no fundo, não aceitei bem isso. Amei este gato, como amo todos os outros animais que tenho e não tenho. Meu consolo é que ele encontrou um lar amoroso para desfrutar de seus últimos anos.



quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Idade e sentido

 Aos 33, não vejo sentido em muitas coisas mais. Em relacionamento afetivo, no amor, em amizades, em trabalhar muito para ganhar dinheiro para gastar com coisas das quais não preciso, em religiosidade/espiritualidade e em muitas outras coisas.

 Nunca estive tão sozinho e tão perdido. No entanto, não me sinto mal. No momento, a única coisa que faz algum sentido em minha vida é viajar. Desde a preparação até o retorno. Isso me traz felicidade genuína, desprovida de interesse ou objetivo. Só o fato de pegar a estrada já me faz bem. Vejo como uma prática de kinhin. Esvazio minha mente. Sou a estrada. Cada curva, reta, cada pedaço de chão, as árvores e cidades e pastagens ao redor. Nada mais importa. 

 Às vezes, a solidão incomoda. Sinto falta de conversar, de ter alguém que seja íntimo, de sexo. Alguém que eu possa pelo menos ligar às vezes. Mas é uma falta suportável. Não consigo me ligar a alguém sem algum vínculo afetivo, de amizade antes. Isso meio que ferra com tudo. Mas sou assim e não vou mudar. Prefiro ser sozinho do que ter amigos e um relacionamento vazios. Não troco minha solidão por qualquer coisa.

E é nessa calma autoconsciente que sigo em frente. Quando chego em meu limite, lembro da frase de Beckett: I can't go on. I'll go on.



quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Mais um dia cinza, frio e confortável

 Sempre que o tempo está cinza e/ou frio, lembro com carinho deste blog. Aqui é o meu lugar-conforto virtual, onde habito e converso sozinho. Se fosse um lugar físico, seria uma sala com uma poltrona confortável, uma mesa de centro com uma caneca de chocolate quente e um livro e teria uma grande janela ao lado. Neste lugar eu ficaria sentado, lendo e bebendo o chocolate quente e, vez ou outra, olharia para a chuva que bate na janela. Um lugar confortável e calmo. Algo assim.

Fico mais delicado quando o clima está assim. Não sei explicar. Menos agressivo e menos agitado. Mais contemplativo e calmo. Realmente amo chuva, frio e tempo fechado.E é só isso por agora. Sem reclamações, sem faltas ou saudades ou nostalgia. Apenas a paz que um dia cinza traz.



quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Sobre solidão

 A vida inteira eu lidei muito bem com a solidão. Nunca fui de ficar chorando ou reclamando sobre isso. E sempre tive o cuidado de não depositar a solução para minha solidão em alguém. Não posso preocupar meus pais com isso; eles já se sentem suficientemente sozinhos. Relacionamentos quase nunca são a solução - ou muitas pessoas casadas não se sentiriam tão miseravelmente solitárias.  O que fazer, então?

Geralmente vivo bem comigo mesmo. Vejo meus filmes e séries. Leio bastante.  Escrevo. Perco tempo na internet. Ouço música por horas a fio. Preparo alguma receita, arrumo algo na casa, brinco com meus gatos. Quando, ainda assim, sou acometido de certo desespero, pego minha moto e saio por aí. Às vezes levo alguma cigarrilha. Paro em algum lugar, fumo sem pressa e volto. Já em casa, aquele momento mais agudo do desespero de ser só some.

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Já tentei ir a bares nessas horas. Mas às vezes é pior. Hoje, por exemplo, fui a um bar que muitas vezes está vazio, sem nenhum cliente. Geralmente eu converso com o dono, bebo algumas cervejas e fico algumas horas por lá. Mas hoje este bar tinha uma mesa com uns cinco ou seis homens. Entre si, alguns conhecidos, poucos amigos. Mas o que unia todos naquela mesa era a solidão, que pairava em volta como uma nuvem cinza prestes a chover. Eu não consigo entrar nesta espécie de grupo, eu me recuso a fazer parte de algo assim - vejo tudo como uma cena patética. No entanto, paradoxalmente, nessas horas sempre penso que gostaria de estar ali, de fazer parte desta entrega momentânea, desta união contra a solidão, sem me preocupar em ser mais um personagem patético e desesperado. Mas não consigo mesmo. 

Distante do grupo eu bebi uma cerveja e fumei duas cigarrilhas. Já passava das dez horas da noite. Então saí de moto sem rumo e, de maneira quase inconsciente, passei por ruas e praças e avenidas cheias de lembranças. Demorei meu olhar em algumas casas, bancos de praças, calçadas e locais. Momentos que vivi na companhia de pessoas caras a mim, pessoas que uma vez foram tão íntimas e queridas. Depois desta tour de nostalgia, rumei para a casa. E posso dizer que o desespero de ser tão só mais uma vez se foi. Por enquanto.

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Sei lá. Tenho visto tanta gente legal tão sozinha. Homens e mulheres. Desesperados para amar alguém e para serem amados. Desesperados por amigos, por mais conversa, olho no olho, toque e afeto. Isso faz muita falta, sabe. No fim das contas todos nós só queremos isso. Alguém que nos tire da solidão. Mas quem?

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Estrada, calor e sexo

 Viajamos juntos para uma cidade sem nome. Andamos por um daqueles centros decadentes, com muita gente, lixo e lojas simples e sujas. O calor era escaldante. Paramos em uma lanchonete, comemos e bebemos algo e pegamos a estrada.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

 Chega uma hora que a gente só quer alguém que fique. Alguém que se importe do mesmo modo. Alguém que tenha a coragem de se entregar como a gente se entrega. De mudar. De fazer acontecer. É pedir muito?



quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Sobre isolamento social em tempos de COVID-19

 Sempre fui, de certa maneira e em certo grau, isolado socialmente. Nunca participei de grupos, nunca tive muitos amigos, nunca frequentei casa de parentes e evito festas e aglomerações sempre que posso. Sinto-me bem sozinho e em companhia de poucas pessoas. Tudo além disso me incomoda.

Desde o começo de março, com a pandemia, que eu não saio de casa. Nada de bares, restaurantes, casas de amigos, lojas, nada mesmo. No começo foi como um sonho - eu não precisava mais dar desculpas para não ver alguém ou para não participar de algum encontro. Mas com o tempo, tanto isolamento social começou a me afetar. 

Nunca pensei que fosse escrever isso, mas o fato é que sinto falta de ver gente, de conversar olhando nos olhos e tal. Claro, não sinto falta de aglomerações ou festas nem nada do tipo, mas de poder sentar em um café com alguém ou de beber umas cervejas em um bar com alguém. Afinal, já são 6 meses de reclusão e pelo visto teremos todos ainda alguns anos vivendo assim. Solidão nunca foi um problema para mim, mas a falta da possibilidade de escapar dela quando quero é algo assustador.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Cinemas, Cafés e bares

Eu nem sou muito de sair de casa. Mas desde o começo desta pandemia de covid-19/coronavirus, tenho saído menos ainda, ou melhor, não tenho saído de modo algum. Nunca pensei que sentiria tanta falta de sentar em uma mesa de bar, beber algumas cervejas e jogar conversa fora com alguém. Mas sinto.

Também sinto muita falta de sentar tranquilamente em um café, beber algo quente e comer alguma coisinha, sem pressa. Eu fazia isso pelo menos duas vezes por semana. Por último, sinto falta de ir ao cinema. Desde meus 6 anos de idade (quando fui a primeira vez ao cinema) eu nunca fiquei tanto tempo sem ver um filme na telona. Ver filmes em casa não é a mesma coisa.

Quando será que voltaremos à normalidade? Voltaremos um dia à normalidade? É tudo incerto, tudo nublado.

PS.: este é um blog onde falo, majoritariamente, sobre sentir falta. De lugares, de pessoas, de sentimentos, de épocas. É um blog sobre nostalgia e sentimentos que não fenecem com o tempo.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

A primeira tarde de inverno

Não fez frio, mas a temperatura estava agradável. Saí de casa às 15:00h, após lavar e lubrificar a moto. O trajeto foi  de apenas 30km, por uma estrada já bem conhecida e rodada. No entanto, mesmo um passeio curto assim é capaz de surtir efeito. Em casa tudo estava estranho e eu estava irritado e impaciente. Saí da cidade e, assim que peguei a primeira reta na rodovia e acelerei até 150, 160, tudo magicamente sumiu. Toda a raiva e impaciência.

O vento em meu rosto, o barulho do motor, a adrenalina, tudo passando rapidamente... Eu não pensava em nada. Apenas acelerei até o meu destino.

Uma vez lá, parei a moto em uma entrada da estrada e fiquei ali, totalmente em paz, vendo o primeiro pôr do sol do inverno com um sorriso de satisfação no rosto. Creio que seja isso que querem dizer quando associam moto à liberdade. Dirigir uma moto é zen. E quem é que tem tempo para ver pôr do sol hoje em dia? Quem tem paciência? Esses momentos simples e sublimes têm se tornado cada vez mais raros, assim como as pessoas capazes de apreciá-los.