Já escrevi sobre isso anos antes em algum lugar e volto a falar disso agora. Todo mundo sabe que eu comprei uma moto.Ponto. E uma vontade, um ''obscuro objeto de desejo'' que eu tinha, se tornou mais forte.Explico. Sempre, andando pela rua em um dia comum, ou em um ônibus viajando, enfim, à qualquer hora do dia durante todos os dias, eu peço à ''sei-lá-quem'', desejo, imploro, para que algo de muito ruim me aconteça . Sei lá, qualquer coisa braba. Um atropelamento por um caminhão ou ônibus em altíssima velocidade, um raio, um tumor, um AVC, qualquer coisa mesmo. Qualquer coisa que me tire a vida, cesse minha medíocre existência (não fui dramático aqui, juro.). Agora com a moto, enquanto acelero da casa para o trabalho e do trabalho para casa, fico feliz com a ideia de que de repente, por foças do Acaso, posso ''PÁ!'' Bater e morrer. O momento em que mais cheguei perto de ter esse desejo ontológico realizado foi há uns dias atrás, quando um homem enorme tentou assaltar-me com uma faca, também enorme, toda enferrujada. Na hora, não fiquei apavorado, não senti medo. Senti aquele calafrio de felicidade absoluta, de ''será que é agora?'' Se o homem tivesse me estocado com a faca, eu não estaria aqui agora, digitando isso. Não estaria existindo. Mas eu, agora, de fato, existo?
segunda-feira, 6 de julho de 2009
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Lawrence Lerlinghetti (poeta e dono da lendária City Lights Bookstore)
Que poderia ela dizer para o ursinho fantástico
Que poderia ela dizer para o irmão
que poderia ela dizer
para o gato de pés futuros
que poderia ela dizer para a mãe
depois daquela vez em que deitou toda tesa
entre as flores bambas
da margem quente de um rio
onde caíam samambaias em leque no ar quebrado
do hálito do seu namorado
e os passarinhos muito doidos
se jogaram das árvores
para provar ainda quente no chão
a semente de esperma arremessada.
quarta-feira, 1 de julho de 2009
"Mas, na vida essencial, se nos reconciliássemos de alguma forma, nada mudaria. E a explicação é trivial: perdoar e amar, apesar de tudo, aqui não conta. Na vida comum costuma-se descartar o que há de descartar. Mas, na vida essencial nunca se descarta nada. Não há pecado, não há perdão, não há estados de ânimo, o essencial entra em contato com o essencial. É por isso que saber perdoar e reconciliar constitui uma debilidade, mas uma debilidade necessária à vida comum." (Lukács)
sexta-feira, 19 de junho de 2009
O Fim do Diploma de Jornalismo como exigência para exercer a profissão
La mayoría de los graduados llegan con deficiencias flagrantes, tienen graves problemas de gramática y ortografía, y dificultades para una comprensión reflexiva de textos. Algunos se precian de que pueden leer al revés un documento secreto sobre el escritorio de un ministro, de grabar diálogos casuales sin prevenir al interlocutor, o de usar como noticia una conversación convenida de antemano como confidencial. Lo más grave es que estos atentados éticos obedecen a una noción intrépida del oficio, asumida a conciencia y fundada con orgullo en la sacralización de la primicia a cualquier precio y por encima de todo. No los conmueve el fundamento de que la mejor noticia no es siempre la que se da primero sino muchas veces la que se da mejor. Algunos, conscientes de sus deficiencias, se sienten defraudados por la escuela y no les tiembla la voz para culpar a sus maestros de no haberles inculcado las virtudes que ahora les reclaman, y en especial la curiosidad por la vida.GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ, “El Mejor Oficio del Mundo”, 52ª Asamblea de la Sociedad Interamericana de Prensa (SIP), Los Angeles, 17/10/1996.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Roça'n'roll 2009
Foi lindo lá. Eu que já fui um headbanger não mentirei, cheguei ao local cheio de pré-conceitos. Quebraram-se todos. Não houve nenhuma briga, nenhuma confusão no local, ninguém abusando no uso de drogas. Umas 3.000 pessoas em paz, apenas curtindo música por mais de 10 horas ininterruptas. O lugar fica numa serra ao lado de um rio, sem mais nada por perto. À noite, naquele frio intenso, todo mundo se enrolou em cobertores, mantas. Alguns sentaram-se e assistiram os shows assim. Casais se abraçavam para se esquentar, enquanto as bandas tocavam. Barracas com chocolate quente, pizzas, cognac. Luzes estroboscópicas vindas dos palcos, luzes amarelas vindas das barracas e dos postes.Foi bonito mesmo. Foi como uma centelha do Woodstock.
Acho tão belos animais como o pinguim Imperador ou o Lovebird, que têm a mesma parceira por toda a vida...
Acabei de ler um artigo do Dr. Drauzio Varela, dizendo que pesquisas de uma universidade americana mostram que a monogamia é fruto de certos agentes químicos que atuam em nosso cérebro. Concluí que meu cérebro transborda desses tais ''agentes químicos''. Me vejo com a mesma pessoa daqui 50 anos. Não sou capaz de trair, de sacanear. De MENTIR. Não quero outra pessoa. Quero só uma pra vida toda. Tenho vontade casar logo, ficar junto o tempo todo. Como esses poucos animais monogâmicos, raros. Mesmo que a vontade de ter uma só pessoa, da monogamia, não seja algo que venha do amor, do sentimento, mas algo fisiológico, parece muito difícil duas pessoas terem esses mesmos agentes em suas cacholas, trabalhando. Incertezas, desconfianças, ciúmes, enfim, cansar da pessoa, ter vontade de conhecer outras pessoas, ter outros relacionamentos, desistir do atual. Isso é coisa de homo sapiens sapiens. Animais monogâmicos não pensam nisso nunca.
Cada vez mais vejo que o amor, o afeto por uma pessoa especial, encontra-se somente no mundo da linguagem, do discurso, como tudo nessa vida.
Cada vez mais vejo que o amor, o afeto por uma pessoa especial, encontra-se somente no mundo da linguagem, do discurso, como tudo nessa vida.
terça-feira, 2 de junho de 2009
02 de Junho
Li essa semana ''O Amante'', auto-biografia da Marguerite Duras, que vai de sua infância na Indochina até sua adolescência em Paris. Conta sua história com um milionário chinês, que ela conheceu quando tinha 15 anos de idade.Um livro intenso, sincero, e com um final bonito e triste, quase que um ''the end'' de filme.
Marguerite Duras, parabéns pelo seu dia.
(Yeah, porque ser irônico is cool!)
(Yeah, porque ser irônico is cool!)
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Duas notas sobre o mesmo assunto
- Sobre Pushing Daisies: o casal se ama, é todo afetuoso, carinhoso. Mas eles não podem se tocar, literalmente.Senão ela morre. Enfim, não entrarei em detalhes (detalhes aqui)
- Sobre os atores e atrizes do mundo pornô: raras exceções, em comparação com todo o mundo ''não-pornô'', os atores e atrizes pornôs são os que amam de maneira mais bonita e sincera. Pelo óbvio : não têm seu relacionamento baseado em sexo, e ciúmes, e descofiança, e, e, e etc.
Sexo é bom, dá prazer. Mas também é efêmero e não deve ser estandartizado. Dar importância ao sexo, só falar ''de'' e ''sobre'' e ''querer'', isso é amor? Não. Infelizmente muitas pessoas confundem. Isso é só desejo sexual natural, de reprodução. Amor é tudo isso aí que sempre ouvimos falar, que tornou-se até cliché: é carinho, proteção, segurança, é gostar da pessoa como ela é, ser amigo, gentil.Enfim, amar uma pessoa e copular com uma pessoa são coisas completamente diferentes.Não falo dessa vez por mim, falo como creio que tudo é. Eu? Sou só um carinha antiquado que acha que conheceu a garota certa e que vai ficar com ela a vida toda.
- Sobre os atores e atrizes do mundo pornô: raras exceções, em comparação com todo o mundo ''não-pornô'', os atores e atrizes pornôs são os que amam de maneira mais bonita e sincera. Pelo óbvio : não têm seu relacionamento baseado em sexo, e ciúmes, e descofiança, e, e, e etc.
Sexo é bom, dá prazer. Mas também é efêmero e não deve ser estandartizado. Dar importância ao sexo, só falar ''de'' e ''sobre'' e ''querer'', isso é amor? Não. Infelizmente muitas pessoas confundem. Isso é só desejo sexual natural, de reprodução. Amor é tudo isso aí que sempre ouvimos falar, que tornou-se até cliché: é carinho, proteção, segurança, é gostar da pessoa como ela é, ser amigo, gentil.Enfim, amar uma pessoa e copular com uma pessoa são coisas completamente diferentes.Não falo dessa vez por mim, falo como creio que tudo é. Eu? Sou só um carinha antiquado que acha que conheceu a garota certa e que vai ficar com ela a vida toda.
sexta-feira, 29 de maio de 2009
O suicídio é uma solução?
Não, o suicídio ainda é uma hipótese. Quero ter o direito de duvidar do suicídio assim como de todo o restante da realidade. É preciso, por enquanto e até segunda ordem, duvidar atrozmente, não propriamente da existência, que está ao alcance de qualquer um, mas da agitação interior e da profunda sensibilidade das coisas, dos actos, da realidade. Não acredito em coisa alguma à qual eu não esteja ligado pela sensibilidade de um cordão pensante, como que meteórico e ainda assim sinto falta de mais meteoros em acção. A existência construída e sensível de qualquer homem me aflige e decididamente abomino toda realidade. O suicídio nada mais é que a conquista fabulosa e remota dos homens bem-pensantes, mas o estado propriamente dito do suicídio me é incompreensível. O suicídio de um neurasténico não tem qualquer valor de representação, mas sim o estado de espírito de um homem que tiver determinado seu suicídio, suas circunstâncias materiais e o momento do seu desfecho maravilhoso. Desconheço o que sejam as coisas, ignoro todo o estado humano, nada no mundo se volta para mim, dá voltas em mim. Tolero terrivelmente mal a vida. Não existe estado que eu possa atingir. E certamente já morri faz tempo, já me suicidei. Me suicidaram, quero dizer. Mas que achariam de um suicídio anterior, de um suicídio que nos fizesse dar a volta, porém para o outro lado da existência, não para o lado da morte? Só este teria valor para mim. Não sinto apetite da morte, sinto apetite de não ser, de jamais ter caído neste torvelinho de imbecilidades, de abdicações, de renúncias e de encontros obtusos que é o eu de Antonin Artaud, bem mais frágil que ele. O eu deste enfermo errante que de vez em quando vem oferecer sua sombra sobre a qual ele já cuspiu faz muito tempo, este eu capenga, apoiado em muletas, que se arrasta; este eu virtual, impossível e que todavia se encontra na realidade. Ninguém como ele sentiu a fraqueza que é a fraqueza principal, essencial da humanidade. A de ser destruída, de não existir.
Assinar:
Postagens (Atom)