segunda-feira, 19 de abril de 2021

Entre tempestades

 Sempre que nos encontramos, tempestades acontecem ao nosso redor.

Por duas vezes, fomos  a um mesmo café. Entramos e, antes mesmo dos pedidos chegarem à mesa, uma chuva forte caiu. E choveu por quase uma hora. Logo em seguida o sol saiu e fomos embora. Nas duas vezes.

Em um domingo nublado e gelado, viajamos até uma cidade vizinha. Paramos numa praça e compramos sorvete. Então um vento forte começou a soprar, o céu se escureceu ainda mais e uma tempestade caiu. Protegidos por uma marquise, ficamos ali tranquilamente vendo a tempestade limpar a cidade com sua força brutal. Depois fomos embora, sob um céu repleto de raios e trovões.

Nossas últimas viagens noturnas, todas elas, aconteceram sob severas tempestades de raios. O céu quase virando dia com raios colossais explodindo nos campos, o ar elétrico ao nosso redor (eu amo esta sensação de eletricidade no ar, essa sensação de suspense em tudo ao redor, de tensão, de prenúncio de tempestade) e o vento gelado e constante são a nossa paisagem.

Viajamos assim, entre tempestades. Em meio a todo o risco, tensão e beleza indomável da natureza, estamos nós. Vivemos entre tempestades também. Nem sempre belas, mas que sempre passam e abrem o nosso céu para mais um dia de sol.

segunda-feira, 8 de março de 2021

Sobre uma tarde cinza

 Tarde cinza. Chuvosa. Estou no meu terceiro expresso. Sem pressa. Sozinho. O som mecânico toca Shaggy (algo que nem gosto, mas que devo dizer que é agradável e cumpre bem seu papel como som ambiente). Lá fora, a chuva. Aqui dentro, eu, sozinho. Pessoas entram, compram e se vão. Só eu permaneço. 

Estou numa paz absurda. Bem tranquilo e calmo. Este é meu modo preferido de passar o tempo, em cafés. Passar o tempo vendo o tempo passar. Não glamourizo a solidão. Quem sabe, realmente seria uma tarde ainda mais agradável com uma companheira ou um amigo ao lado. Mas não reclamo. Aprecio a minha própria companhia. 

Nestes momentos bobos de chuva, café quente e forte, algo doce para quebrar, música ambiente (agora tocando Alanis), nestes momentos me sinto completo. Minha própria presença me basta. Assim como tudo ao redor. Até o barulho vindo da cozinha me é agradável. Estou em paz.


Ps.: Eu estava cantarolando Let Het Go, do Passenger, na minha cabeça, e pensando no significado da letra. Aí, do nada essa música começa a tocar aqui... Aiai.

sexta-feira, 5 de março de 2021

Sobre deixar ir

Tenho vivido uma vida repleta de tranquilidade.Aquela paz, sabe? Claro, ainda odeio o governo e tudo o que está errado no país, mas, mesmo assim. Uma das melhores coisas que me aconteceram foi ter aprendido a deixar ir. Deixar as pessoas irem. Pessoas que não somam, que não se importam, que somem, pessoas cujo relacionamento dependia inteiramente do meu esforço. Quando comecei a me afastar, minha vida melhorou muito. Quando entendi que não posso ser o único responsável em manter qualquer relacionamento com qualquer pessoa que seja, tudo mudou para a melhor. Perdi duas pessoas que eram bem próximas por conta disso. Pessoas que eu julgava serem minhas amigas íntimas, mas que, quando me afastei e deixei de insistir, elas sumiram.
 
Qualquer tipo de relacionamento exige manutenção e cuidados. Exige interesse e atenção. Sem isso, definha e morre.
 
Ao mesmo tempo, tenho gostado muito de conhecer gente nova. Gente interessante. Gente que tem interesse. Isso dá vida, energia! E tudo vai bem...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

A um antigo amigo

Lembro de nossa adolescência. Dos sábados inteiros ouvindo música e vendo o programa alto-falante na TV Cultura.Dos DVDs de shows que víamos juntos, dos inúmeros cds e fitas e mp3 trocados ao longo dos anos.

Das andanças sem rumo, das bebedeiras, das risadas.

Lembro de quando passamos quase dois dias em uma cidade de merda no meio do nada para ver um show, com uma garrafa de cognac barato. Da bebedeira na praça, de velhos tocando malageña salerosa em um bar e a gente sem saber se era real ou delírio. Da gente ouvindo Oasis madrugada adentro enquanto o próximo ônibus não chegava.

Lembro das inúmeras bandas em músicos que me mostrou. Daquele dia chuvoso em que vimos o dvd Music Bank do Alice in Chains.

Lembro de como você escrevia bem. Contos e poemas. Tinha uma energia brutal em tudo o que criava. Era uma escrita passional.

De nossas conversas sobre filosofia, política, literatura, música e tudo o mais.

Por anos a fio.

Lembro de como não nos encaixávamos na sociedade. De como não nos curvávamos a nada e nem a ninguém. De nossa rebeldia, de nosso orgulho, de nossa confusão. Estávamos perdidos, abandonados e não sabíamos de nosso futuro. Apenas vivíamos. Admirávamos os beatniks, por apreciação e afinidade.Éramos marginais subterrâneos. Ou algo assim.

Mas o tempo te quebrou. Ou, não, melhor: o tempo te consertou. Hoje, praticamente 20 anos depois de quando nos conhecemos, você se afastou, tem sua vida, sua família, sua religião e tal. Faz parte da sociedade. E eu me orgulho de você - acredite ou não. Espero que esteja bem e em paz, seja aonde for, seja com quem estiver. Penso em você.

p.s.: E eu? Caso leia isso um dia qualquer, posso dizer: continuo perdido. Sem rumo. Ainda afoito pelo futuro. Ainda sem me encaixar em nada, em nenhum grupo, crença ou sistema. Tornei-me um tanto solitário. Mais do que nunca. Ainda vejo meus filmes e ouço minhas músicas. Ainda bebo minhas cervejas e meus Jack Daniels. Ainda ando por aí sem rumo. Ainda resisto (ao que mesmo?) e luto (pelo que mesmo?). Enfim, não mudei tanto assim. É isso. 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Sobre o fim de semana

   Amo fins de semana e sempre aproveito os meus ao máximo. Neste, além de um breve passeio de moto por uma rodovia da região, recebi um amigo em casa. Fora estas pequenas atividades, o resto foi passado no quarto, com um calor de mais de 30ºC lá fora e um ar condicionado de 17ºC dentro. Vi alguns filmes, maratonei uma série e perdi um bom tempo ao celular. Aquela preguiça boa, sem culpa, sabe?

Tanto sábado, quanto domingo, acordei cedo. Fiz café e passei uma horinha com os gatos que ficam de fora da casa (resgatados, castrados e que passam o dia todo no quintal). Depois, conversei um pouco com a minha avó, tomei um banho e passei o resto do dia no quarto, exceto pela visita do amigo. Domingo foi praticamente igual - a diferença é que fiz pães de queijo logo cedo. E é isso. Terminei o domingo tomando um milk shake e vendo mais série.

 Meus fins de semana são sempre em paz, repletos de conforto. Não sei ao certo porque descrevi dois dias comuns de minha vida aqui. Talvez, fiz isso justamente na tentativa de emanar em palavras todo o conforto que eles representaram. 

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

O coração leve. O tanque cheio. Um fim de semana logo adiante. Não vejo a hora de pegar a estrada.

Seria bom ter companhia? Claro! Mas convivo bem comigo mesmo também. Já estou com um sorriso no rosto, só de imaginar o amanhã: acordar cedo, tomar um farto café, vestir o velho jeans da Levis, a jaqueta de sarja, o colete e as luvas de couro, colocar o capacete, montar na máquina e sair por aí.

Todo fim de semana tenho rodado mais de 200 kms. Sem rumo, sem pressa e sem destino. A saúde mental proporcionada por esta atividade é algo incrível. Volto para a casa em absoluta paz. Pegar a estrada é zen.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Sobre coisas que têm um enorme significado para mim

Eclipse, Folhas Caídas, Bancos de Praça, Caminhadas, O Teatro Mágico, Longos Olhares, Longos Abraços, Sorriso Sincero, Chuva, Cafeteria, Desenhos antigos, Polaroid, Indie Pop, Lomo, Leminski, Bergman, Amélie Poulain, Eternal Sunshine of the Spotless Mind, Belle & Sebastian, Pullovers, Mãos Dadas, Moleskine Vermelho, Dias Nublados, Noites Frias, Encontros Esperados, Encontros Inesperados, Borboletas No Estômago, Timidez, Silêncio, O Tempo - Tanto, Tanto Tempo e um nó constante na garganta sempre que penso ou sinto essas coisas que tem um enorme significado para mim. 

Sobre sutileza e delicadeza

 Tento muito viver a vida assim, de forma sutil e delicada. Tento tratar as pessoas assim também. Mas é difícil, principalmente quando não há reciprocidade. No entanto, persisto. Mesmo que alguns dias e algumas pessoas me deixem amargo à vezes, em meu âmago sou o que sou: calmo e leve. E assim permaneço. 

-*-*-

Eu tenho um problema. Um incômodo, e tenho isso por mais de 10 anos. O nome deste mal é saudade. E, a cada dia que passa, a cura me parece mais e mais impossível. Aprendi a conviver com isso. Às vezes me faz bem, quando em forma de lembranças. Às vezes me dói. Mas é algo que carrego comigo e protejo bem. É a minha saudade.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Sobre o natal

 Não sou cristão. Não que isso signifique alguma coisa em relação ao natal, pois a grande maioria dos cristãos não usa a data para comemorar o nascimento de cristo, mas para se reunir, comer e beber. Enfim.

Dito isso, digo também: gosto do natal. Sempre gostei, desde criança. Não sei explicar bem o motivo. Talvez seja porque, nesta data, tudo fica aparentemente mais pacífico e cheio de amor. Mas acho que isso é coisa da minha cabeça. Sim, deve ser. Gosto das luzes também. Tanto que uso uma luz de natal em meu quarto 365 dias por ano. Fica um clima aconchegante, sabe? Todos que entram em meu quarto sentem isso. Conforto. Não vou mentir, também curto as comidinhas diferentes e tal. Gosto até mesmo das reuniões familiares - claro, neste ano da peste, cada um vai passar com os seus. Sem aglomeração (mentira. As pessoas pouco se importam com esta pandemia e vão fazer tudo como se estivesse tudo bem). 

É isso. Amo o natal, amo as luzes, a paz e a tranquilidade que ele traz. Procuro ter este sentimento natalino em mim ao longo de todo o ano. Dar conforto. Promover o amor. Essas coisas assim. Feliz natal!



sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Um bom dia em Glasgow

 


 Um bom dia em Glasgow. Parece que tudo está indo bem.Acordei com o barulho da chuva no telhado, li um trecho da bíblia, tomei o café da manhã e saí com minha capa de chuva lilás. A desolação do parque é apenas aparente. Quando termina a chuva, dezenas de pequeninos seres aparecem em todos os cantos: pássaros, borboletas, um ou outro esquilo e alguns cães. Saio de casa toda manhã e vou sempre ao mesmo local, o Café Willow Tea. É como se um imã me atraísse. Peço um expresso, apesar de não ter vontade alguma de beber. A garçonete pergunta se quero uma empada de queijo. Ela sempre pergunta isso, porque as primeiras vezes que fui ao Café comi algumas. E agora eu sou o Garoto das Empadas de Queijo. Parei de comê-las, passei a tomar apenas um expresso. Continuarei assim até a garçonete esquecer que um dia fui o garoto das empadas de queijo. Só espero que ela não passe a achar que me tornei o garoto do café expresso. Mas acho que não há esse risco, porque muitas pessoas vão a um café apenas para tomar...café.

 O Willow Tea é um dos Cafés mais antigos da cidade. É decorado com fotos de pessoas famosas que nunca estiveram lá. Tenho uma sensação estranha quando fico lá sentado, a maior parte do meu tempo livre, escrevendo canções e esperando que algo de diferente aconteça um dia, para quebrar a monotonia. Às vezes componho uma canção sentado inteira ali. Às vezes levo meus fones e fico quietinho, olhando meu café esfriar e curtindo alguma banda local. Da última vez fiquei ouvindo Vaselines. Apesar do nome ser meio inusitado, a bandinha é linda. Um casal que toca e canta pop fofo. Li em alguma revista antiga que era a banda preferida do Kurdt Kobain. Legal.Soa como se crianças doces e inocentes fizessem uma banda de punk. Bem, acho que vou ao cinema agora. Preciso conversar com o dono de lá. É parte de um trabalho de escola. Parou de chover.

(Não me lembro muito bem de ter escrito este texto. Tentei emular os textos que vinham nos encartes dos álbuns do Belle & Sebastian. De todo modo, é um textinho que gostou muito!)