sexta-feira, 29 de maio de 2020

Diário de sonhos: sobre a impossibilidade de um encontro e uma entidade

Ela estava em São Paulo. Foi a um evento. Eu iria depois. No caminho até o aeroporto, minha moto estragou. Eu não conseguia um táxi e nem ninguém que me levasse. A hora do voo se aproximava. Seria praticamente impossível embarcar. Mas de algum modo eu consegui. No evento, ela estava em um lugar e eu em outro. Eu tentava ligar, mas a ligação ficava ruim e não conseguíamos conversar. Procurávamos um ao outro, sem nunca nos encontrarmos. Fiquei aflito, frustrado e com raiva, tudo ao mesmo tempo.

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Nos fundos de um ferro-velho havia uma oficina mecânica. Fui até lá consertar a moto. Ao lado da oficina havia uma casa abandonada, e algo negativo e mau emanava de lá. Mesmo assim, entrei em um cômodo, mesmo com o mecânico pedindo para que eu não fizesse isso. Então algo aconteceu. Alguma energia, espírito, zumbi, monstro, tudo isso junto e ao mesmo tempo nada disso, mas algo inominável e indescritível. O mecânico se livrou da entidade e tudo voltou ao normal. Não senti medo, mas como se estivesse jogando alguma coisa em um video-game.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Diário de sonhos: casa e shopping

Estávamos em uma casa. Nas preliminares, sentados no sofá em frente a TV. Por algum motivo, não fizemos amor. Saímos de casa, em um carro com mais pessoas, e rodamos pela cidade. Tudo parecia diferente. Eu não conseguia parar de pensar em sexo. Estava excitado. Queria terminar o que havia começado.

Paramos em um shopping. Estava completamente vazio, com muitas lojas ainda fechadas. Caminhamos, nós dois e as demais pessoas do carro, pelos largos corredores. Mexíamos em tudo, como crianças curiosas. Logo estávamos sozinhos novamente. Você corria de mim, fingia que me evitava e sorria quando fazia isso. Participei da brincadeira. Nós nos abraçamos e assim ficamos, abraçados em um shopping vazio.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Sobre algo que tenho pensado



Nem sempre a vida toma o rumo que queremos. E, às vezes, ela toma o pior rumo possível. Nós lutamos, tentamos, nos esforçamos, mas às vezes nada disso é o bastante. E está tudo bem. Ninguém tem controle total sobre todos os aspectos da vida. Trabalho, relacionamento, finanças, futuro, família... Tudo isso se interconecta. Antes eu me desesperava, com uma sensação de urgência, de que tudo em minha vida está atrasado, parado e errado. Hoje eu mudo o que posso, tento mudar o que quero e entendo que algumas coisas não dependem de mim.

Duas frases de Beckett (um de meus autores preferidos) resumem bem minha vida no momento: 

"I CAN'T GO ON. I'LL GO ON"

"EVER TRIED. EVER FAILED. NO MATTER. TRY AGAIN. FAIL AGAIN. FAIL BETTER"

Apoio-me, assim, na arte para tentar sobreviver e ser uma pessoa melhor. E também para ter certa paz de espírito, algo que me permita seguir, apesar de tudo. Outra coisa: é quase impossível não sentir ódio de tudo  o que ocorre no país. A revolta é constante. Mas tento não deixar que esse sentimento seja maior do que o amor que tenho em mim. Por mais complicado que seja, é preciso ter alteridade. Em relação a isso, deixo o maravilhoso e pungente vídeo abaixo:


Diário de sonhos: sobre uma festa, uma montanha e amoras

Estava em minha casa com algumas pessoas. Parecia alguma festa. Barulho e movimento. Em meu quarto, víamos algo na tv. Um filme. Uma garota pediu para que eu a abraçasse e depois sentou em meu colo. Fiquei constrangido, pois não queria nada daquilo. Saí e caminhei em volta da casa. Alguém me chamou, mas não descobri quem.


Saímos da cidade e começamos a subir uma serra. A estrada de terra e grama era estreita e com mato em  volta. No horizonte, uma enorme montanha. Você me disse: "vamos andar distraídos, porque assim ninguém vai saber que estamos indo até a montanha." E assim fizemos. Em certo momento, você viu uma amoreira na beira da estrada. Fomos até a árvore e comemos algumas amoras. Estavam doces. Você me deu um beijo e seguimos nossa caminhada rumo à montanha.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Sobre realizar um sonho - e as consequências disso

Realizei um sonho antigo, que me acompanha há mais de 15 anos. Comprei uma motocicleta nova. Inglesa, com visual retrô. Era tudo o que eu sempre quis. Se estou feliz? Não sei. Acho que não.

Explico: a minha vida inteira eu corri atrás de amor, de afeto, de presença. Lutei por isso, gastei com isso, fui atrás mesmo. Colecionei humilhações, comportamentos patéticos e súplicas: tudo por querer aquilo que todos querem: um pouco de amor. Então, agora, tive a chance de gastar minhas economias de 3 anos para correr atrás e repetir todo esse processo exaustivo e degradante - ou eu poderia fazer algo novo.

E, mesmo com meu coração me implorando para fazer tal coisa, segui a razão. Quebrei o ciclo. Pensei em mim mesmo pela primeira vez em mais de 10 anos. Então, não, não estou feliz ou leve. Estou angustiado pra caralho. Sozinho e tal. Mas não estou nem um pouco arrependido. Demorou muito para que eu entendesse e aceitasse que tenho que amar, primeiramente, a mim mesmo. Afinal, se eu não me tratar bem e ser compassivo ao ponto de realizar um sonho material para mim mesmo, quem vai? Uma vida toda de concessão, humilhação e de busca por migalhas de amor e afeto não é uma vida que merece ser vivida. Vivi isso por tempo demais, então sei do que falo. Não estou feliz ou leve, mas espero que, com o tempo, pelo menos eu me sinta livre.

Algumas coisas das quais sinto falta

Sinto falta de olhar nos olhos de alguém e ver o mundo todo ali - de ver quando o amor transborda pelo corpo através dos olhos. Falta de mãos delicadas e macias em contato com as minhas. De um hálito quente que fala próximo a mim e faz com que meus pelos se arrepiem. De um abraço (um parêntese aqui: detesto abraços, mesmo aqueles rápidos quando cumprimentamos alguém. Mas sinto falta de um abraço específico, de sentir um corpo junto ao meu por alguns segundos e desejar que estes segundos fossem infinitos. Daquele abraço que nos deixa tão confortáveis que não queremos mais soltar e ficamos até mesmo excitados). Sinto falta de sexo. De sentir o calor de alguém, dessa troca cheia de desejo e sem nenhum tabu, de explorar um corpo e ter o meu explorado, de dar e receber prazer. Sinto falta de conversar, trocar experiências, causos, curiosidades e amenidades. De rir com alguém. Sinto falta de ter alguma pessoa parceira, que seja confiável e que possa confiar em mim também.

São muitas as faltas e muitos os sentimentos.

Sonhando com Cafés

Tenho sonhado bons sonhos. Sonhos confortáveis e tranquilos. Pacíficos e delicados. E tenho sonhado muito com Cafés. Creio que isso seja um reflexo imediato de meu desejo de sentar com alguma alma afim em uma cafeteria e conversar demoradamente sobre a vida, o universo e tudo o mais. Olhar nos olhos. Quem sabe um toque de mãos.

Sinto muita falta disso. Mas, não vou mentir: mesmo antes da pandemia eu já sentia essa falta - e se não fazia isso era por falta de companhia. Então, afinal, o desejo de passar uma tarde inteira em uma cafeteria tem a ver com o desejo de passar a tarde inteira com alguém; desejo por interação, comunicação, troca.

Sei que ao dizer isso corro o risco de ser completamente patético. Mas é isso que somos: seres que buscam pateticamente por alguém que nos tire de nossa solidão, mesmo que seja só por alguns momentos confortáveis, tendo como desculpa uma xícara de café em cada mão em uma mesa qualquer.



Nesta atual situação em que o mundo se encontra, tenho sentido que é momento de ficarmos com quem amamos, com quem nos quer bem e por perto. Reforçar estes laços, estreitá-los... Precisamos acreditar que tudo isso vai passar uma hora. E com pessoas queridas por perto, esse crença se torna mais palpável. Ou algo assim.

No entanto, nunca me senti tão sozinho em toda a minha vida. Minha família tem sido um grande suporte, como sempre. Mas a solidão que sempre senti aumentou muito. Antes, quando me sentia sufocado e quase desesperado, saía e passava a tarde em um café ou a noite em um bar qualquer. Agora, só tenho o silêncio do meu quarto e o vazio das ruas, o que torna difícil essas fugas da realidade. Não sei o que fazer, não sei quando tudo isso vai mudar. Nestes tempos estranhos tenho me sentido também muito estranho, cada vez mais calado, fechado e só.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Tempos Estranhos

São tempos estranhos. Para todos em todo o mundo.Um vírus, uma ameaça invisível, mudou tudo.Ainda não me adaptei a esta nova configuração global.

Viagem marcada com passagens compradas, férias programadas, investimentos e metas/objetivos... Tudo abortado. Alguns dizem que levaremos cerca de dois anos para ter certa normalidade. Outros, que tal normalidade nunca mais retornará.

Não tem muito o que eu possa fazer. Trabalho, leio, descanso e tento não enlouquecer. Preocupo-me com as pessoas que amo. Preocupo-me com as pessoas vulneráveis. Mas, repito, tento não enlouquecer. A vida segue. Como e até quando, não sei. Mas segue.

(Faz certo frio agora. Tomo um café enquanto escrevo. O mundo está um caos, mas estou em paz.)

terça-feira, 31 de março de 2020

Encontros e Desencontros (diário de sonho)


Eu estava em uma grande cidade. Em um local com muitos bares e restaurantes. Sabia que você estava por ali. Mas procurei, procurei e não te achei.

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Estávamos juntos, andando pra lá e pra cá. Conversávamos com tranquilidade e certo constrangimento.Como crianças que acabam de se conhecer.

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Peguei um elevador, e quando a porta se abriu eu estava dentro de uma loja de departamentos que dava para um calçadão e uma praça. Dali, caminhei para a esquerda e comi em um restaurante. Depois, fui procurar uma casa do lado direito. Bati, mas ninguém me atendeu. No caminho, conversei bastante com o taxista.Era perigoso andar por ali, ele disse. Mas não tive medo.

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A cidade era um lugar bonito, com alamedas e praças. Tirei fotos e você estava ao meu lado.Sorríamos com leveza, um sorriso de quem não tem pressa e não tem outro lugar que queria estar.

quarta-feira, 25 de março de 2020

Passing afternoon




Não é uma foto bem produzida. Apenas coloquei o livro ali do lado e pousei o cachimbo por um momento, para escrever este texto verborrágico.

Não me lembro qual foi a última vez que tive um momento assim. De tranquilidade e descanso. O tempo livre que tenho é para descansar, mas como vivo cansado, nunca consigo aproveitar muito bem. Durmo muito e, ao fim de cada domingo, sinto apenas que recarreguei as energias o suficiente para encarar a próxima semana. Parece que nada nunca rende, nada se desenvolve de uma maneira satisfatória.

Nestes dias de isolamento social, usei o último fim de semana para descansar. Sem trabalho. na segunda, passei o dia lendo (e terminei um livro inteiro).
Hoje, neste fim de tarde, fiz um café forte. Sentei nas escadas da porta da frente da casa, piquei uma porção de fumo de corda, abasteci o cachimbo e dei algumas tragadas preguiçosas, ao som de Sulfjan Stevens. Li um conto do Caio; mais algumas tragadas. Sem propósito, sem pressa e sem nenhum cansaço.

Eu poderia viver uma vida inteira assim, como um hobbit, ociosamente entocado entre cachimbos e livros. Apenas vendo a tarde passar…