segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Sobre o natal

 Não sou cristão. Não que isso signifique alguma coisa em relação ao natal, pois a grande maioria dos cristãos não usa a data para comemorar o nascimento de cristo, mas para se reunir, comer e beber. Enfim.

Dito isso, digo também: gosto do natal. Sempre gostei, desde criança. Não sei explicar bem o motivo. Talvez seja porque, nesta data, tudo fica aparentemente mais pacífico e cheio de amor. Mas acho que isso é coisa da minha cabeça. Sim, deve ser. Gosto das luzes também. Tanto que uso uma luz de natal em meu quarto 365 dias por ano. Fica um clima aconchegante, sabe? Todos que entram em meu quarto sentem isso. Conforto. Não vou mentir, também curto as comidinhas diferentes e tal. Gosto até mesmo das reuniões familiares - claro, neste ano da peste, cada um vai passar com os seus. Sem aglomeração (mentira. As pessoas pouco se importam com esta pandemia e vão fazer tudo como se estivesse tudo bem). 

É isso. Amo o natal, amo as luzes, a paz e a tranquilidade que ele traz. Procuro ter este sentimento natalino em mim ao longo de todo o ano. Dar conforto. Promover o amor. Essas coisas assim. Feliz natal!



sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Um bom dia em Glasgow

 


 Um bom dia em Glasgow. Parece que tudo está indo bem.Acordei com o barulho da chuva no telhado, li um trecho da bíblia, tomei o café da manhã e saí com minha capa de chuva lilás. A desolação do parque é apenas aparente. Quando termina a chuva, dezenas de pequeninos seres aparecem em todos os cantos: pássaros, borboletas, um ou outro esquilo e alguns cães. Saio de casa toda manhã e vou sempre ao mesmo local, o Café Willow Tea. É como se um imã me atraísse. Peço um expresso, apesar de não ter vontade alguma de beber. A garçonete pergunta se quero uma empada de queijo. Ela sempre pergunta isso, porque as primeiras vezes que fui ao Café comi algumas. E agora eu sou o Garoto das Empadas de Queijo. Parei de comê-las, passei a tomar apenas um expresso. Continuarei assim até a garçonete esquecer que um dia fui o garoto das empadas de queijo. Só espero que ela não passe a achar que me tornei o garoto do café expresso. Mas acho que não há esse risco, porque muitas pessoas vão a um café apenas para tomar...café.

 O Willow Tea é um dos Cafés mais antigos da cidade. É decorado com fotos de pessoas famosas que nunca estiveram lá. Tenho uma sensação estranha quando fico lá sentado, a maior parte do meu tempo livre, escrevendo canções e esperando que algo de diferente aconteça um dia, para quebrar a monotonia. Às vezes componho uma canção sentado inteira ali. Às vezes levo meus fones e fico quietinho, olhando meu café esfriar e curtindo alguma banda local. Da última vez fiquei ouvindo Vaselines. Apesar do nome ser meio inusitado, a bandinha é linda. Um casal que toca e canta pop fofo. Li em alguma revista antiga que era a banda preferida do Kurdt Kobain. Legal.Soa como se crianças doces e inocentes fizessem uma banda de punk. Bem, acho que vou ao cinema agora. Preciso conversar com o dono de lá. É parte de um trabalho de escola. Parou de chover.

(Não me lembro muito bem de ter escrito este texto. Tentei emular os textos que vinham nos encartes dos álbuns do Belle & Sebastian. De todo modo, é um textinho que gostou muito!)

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Voltei a sonhar acordado

Quando eu era adolescente eu tinha o costume de sonhar acordado. Sabe do que falo? Ficava horas e horas imaginando conversas inteiras, olhares, sorrisos e toques. E isso me salvava de uma inevitável solidão. 

De uns tempos pra cá voltei a sonhar acordado. Com encontros íntimos em Cafés confortáveis, em dias de chuva e frio. E posso dizer: novamente, isso tem me salvado. Mesmo com a perspectiva certa da não realização. Sonhar é bom.

 
 

 

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Sobre a falta de um proprósito

 Objetivos de vida hodiernos se resumem e se concentram na área econômica. A vida não pode se resumir a isso: dinheiro. Não pode. Deve haver mais. Preciso de mais. 

Religião e espiritualidade são muletas. Mas não há nada de errado em crer/praticar. O problema é quando isso se torna uma cortina de fumaça que impede de ver a realidade como ela é. O mundo não é um lugar maravilhoso onde o sol sempre brilha e todas as pessoas são felizes. Positividade individualista só serve para recarregar as baterias do ego. A vida também tem que ir além disso. Devo ultrapassar a ideia de deus, de espiritualidade, encarar o vazio e, ainda assim, entender: a vida é mais que isso. Tem que ser. 

Mas, se a vida não é dinheiro ou deus, o que ela é? Ou, melhor: qual é  o seu propósito? 

Intelectuais das mais diversas áreas já se dobraram por anos em cima deste questionamento. Ideias não faltam, e não é a minha intenção aqui analisá-las e sequer as expor. Quem busca por sentido na vida deixa de viver e se torna miserável. Eu tenho/sou o sentido, o propósito e preencho minha vida com isso. O propósito é construir um ser-no-mundo em meio ao caos do acaso. É tentar fazer algo com o que tentaram fazer de mim. 

Enfim, definições do tipo não faltam. Penso em um de meus alemães preferidos, que disse que na vida o homem tem pouquíssimo tempo livre, de fato. E que faz questão de preencher este tempo livre com qualquer coisa, para que assim nunca pense no propósito de sua liberdade. 

Liberdade, vida, propósito. Monologo profundo e solitário. Há anos não entro em uma conversa assim com alguém. Tenho me sentido cada vez mais só. Mesmo entre os poucos amigos que me restam. Não sei qual é  o propósito de minha vida, de minha existência. Só sei o que sinto: que  os anos estão passando, os amigos diminuindo e a solidão aumentando.

 O que me mantém vivo, francamente? Amor e arte. Enquanto houver livros que merecem ser lidos, filmes e músicas que me sejam atraentes, eu viverei. E viverei bem. 

E amor. Pela família. Pelos pets. Pelos desconhecidos que sofrem, por quem sequer pensa em mim. Todo amor é o maior amor do mundo. E o meu amor, minha intenção de amar é grande. Tanto que sobra. Mas sinto que essa sobra transborda dia após dia, para nunca mais voltar.

Sobre amor sem destino

 Tanto amor. Sem destinatário. Sinto-me como uma extensa carta romântica-e-brega-e-sonhadora escrita à mão. Com o campo "Remetente" em branco. Aos cuidados de.

 



quarta-feira, 18 de novembro de 2020

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Sobre um amigo que se foi

 Há cerca de 6 anos ele apareceu. Magro e assustado. Um gato preto, já velho, que provavelmente sofreu por toda a sua vida. Em minha casa encontrou alimento e amor, além de amigos felinos. Ficou conosco por todo este tempo. Era arisco e só comia carne. Não demos um nome. Como era selvagem, respeitamos sua condição e o chamávamos de gato preto, negão, pretinho e outros apelidos semelhantes.

 Há uns 3 meses ele adoeceu e tratamos no veterinário. Neste fim de semana ele novamente ficou ruim, corremos para cuidar, mas ele não resistiu. Sei que fiz o que pude, mas ainda assim, a sensação é de que poderia e deveria ter feito mais. Sinto que perdi um amigo.

 Os outros gatos estão sentindo a ausência dele. Eu também. Cheguei em casa ontem e não o vi deitado no canto de sempre. Ele não esperou por carne na porta da cozinha na hora do almoço. Sua casinha estava vazia. Tento justificar a sua morte: ele estava muito ruim, com vários problemas de saúde. Descansou. Mas, no fundo, não aceitei bem isso. Amei este gato, como amo todos os outros animais que tenho e não tenho. Meu consolo é que ele encontrou um lar amoroso para desfrutar de seus últimos anos.



quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Idade e sentido

 Aos 33, não vejo sentido em muitas coisas mais. Em relacionamento afetivo, no amor, em amizades, em trabalhar muito para ganhar dinheiro para gastar com coisas das quais não preciso, em religiosidade/espiritualidade e em muitas outras coisas.

 Nunca estive tão sozinho e tão perdido. No entanto, não me sinto mal. No momento, a única coisa que faz algum sentido em minha vida é viajar. Desde a preparação até o retorno. Isso me traz felicidade genuína, desprovida de interesse ou objetivo. Só o fato de pegar a estrada já me faz bem. Vejo como uma prática de kinhin. Esvazio minha mente. Sou a estrada. Cada curva, reta, cada pedaço de chão, as árvores e cidades e pastagens ao redor. Nada mais importa. 

 Às vezes, a solidão incomoda. Sinto falta de conversar, de ter alguém que seja íntimo, de sexo. Alguém que eu possa pelo menos ligar às vezes. Mas é uma falta suportável. Não consigo me ligar a alguém sem algum vínculo afetivo, de amizade antes. Isso meio que ferra com tudo. Mas sou assim e não vou mudar. Prefiro ser sozinho do que ter amigos e um relacionamento vazios. Não troco minha solidão por qualquer coisa.

E é nessa calma autoconsciente que sigo em frente. Quando chego em meu limite, lembro da frase de Beckett: I can't go on. I'll go on.



quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Mais um dia cinza, frio e confortável

 Sempre que o tempo está cinza e/ou frio, lembro com carinho deste blog. Aqui é o meu lugar-conforto virtual, onde habito e converso sozinho. Se fosse um lugar físico, seria uma sala com uma poltrona confortável, uma mesa de centro com uma caneca de chocolate quente e um livro e teria uma grande janela ao lado. Neste lugar eu ficaria sentado, lendo e bebendo o chocolate quente e, vez ou outra, olharia para a chuva que bate na janela. Um lugar confortável e calmo. Algo assim.

Fico mais delicado quando o clima está assim. Não sei explicar. Menos agressivo e menos agitado. Mais contemplativo e calmo. Realmente amo chuva, frio e tempo fechado.E é só isso por agora. Sem reclamações, sem faltas ou saudades ou nostalgia. Apenas a paz que um dia cinza traz.



quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Sobre solidão

 A vida inteira eu lidei muito bem com a solidão. Nunca fui de ficar chorando ou reclamando sobre isso. E sempre tive o cuidado de não depositar a solução para minha solidão em alguém. Não posso preocupar meus pais com isso; eles já se sentem suficientemente sozinhos. Relacionamentos quase nunca são a solução - ou muitas pessoas casadas não se sentiriam tão miseravelmente solitárias.  O que fazer, então?

Geralmente vivo bem comigo mesmo. Vejo meus filmes e séries. Leio bastante.  Escrevo. Perco tempo na internet. Ouço música por horas a fio. Preparo alguma receita, arrumo algo na casa, brinco com meus gatos. Quando, ainda assim, sou acometido de certo desespero, pego minha moto e saio por aí. Às vezes levo alguma cigarrilha. Paro em algum lugar, fumo sem pressa e volto. Já em casa, aquele momento mais agudo do desespero de ser só some.

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Já tentei ir a bares nessas horas. Mas às vezes é pior. Hoje, por exemplo, fui a um bar que muitas vezes está vazio, sem nenhum cliente. Geralmente eu converso com o dono, bebo algumas cervejas e fico algumas horas por lá. Mas hoje este bar tinha uma mesa com uns cinco ou seis homens. Entre si, alguns conhecidos, poucos amigos. Mas o que unia todos naquela mesa era a solidão, que pairava em volta como uma nuvem cinza prestes a chover. Eu não consigo entrar nesta espécie de grupo, eu me recuso a fazer parte de algo assim - vejo tudo como uma cena patética. No entanto, paradoxalmente, nessas horas sempre penso que gostaria de estar ali, de fazer parte desta entrega momentânea, desta união contra a solidão, sem me preocupar em ser mais um personagem patético e desesperado. Mas não consigo mesmo. 

Distante do grupo eu bebi uma cerveja e fumei duas cigarrilhas. Já passava das dez horas da noite. Então saí de moto sem rumo e, de maneira quase inconsciente, passei por ruas e praças e avenidas cheias de lembranças. Demorei meu olhar em algumas casas, bancos de praças, calçadas e locais. Momentos que vivi na companhia de pessoas caras a mim, pessoas que uma vez foram tão íntimas e queridas. Depois desta tour de nostalgia, rumei para a casa. E posso dizer que o desespero de ser tão só mais uma vez se foi. Por enquanto.

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Sei lá. Tenho visto tanta gente legal tão sozinha. Homens e mulheres. Desesperados para amar alguém e para serem amados. Desesperados por amigos, por mais conversa, olho no olho, toque e afeto. Isso faz muita falta, sabe. No fim das contas todos nós só queremos isso. Alguém que nos tire da solidão. Mas quem?