quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Sobre isolamento social em tempos de COVID-19

 Sempre fui, de certa maneira e em certo grau, isolado socialmente. Nunca participei de grupos, nunca tive muitos amigos, nunca frequentei casa de parentes e evito festas e aglomerações sempre que posso. Sinto-me bem sozinho e em companhia de poucas pessoas. Tudo além disso me incomoda.

Desde o começo de março, com a pandemia, que eu não saio de casa. Nada de bares, restaurantes, casas de amigos, lojas, nada mesmo. No começo foi como um sonho - eu não precisava mais dar desculpas para não ver alguém ou para não participar de algum encontro. Mas com o tempo, tanto isolamento social começou a me afetar. 

Nunca pensei que fosse escrever isso, mas o fato é que sinto falta de ver gente, de conversar olhando nos olhos e tal. Claro, não sinto falta de aglomerações ou festas nem nada do tipo, mas de poder sentar em um café com alguém ou de beber umas cervejas em um bar com alguém. Afinal, já são 6 meses de reclusão e pelo visto teremos todos ainda alguns anos vivendo assim. Solidão nunca foi um problema para mim, mas a falta da possibilidade de escapar dela quando quero é algo assustador.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Cinemas, Cafés e bares

Eu nem sou muito de sair de casa. Mas desde o começo desta pandemia de covid-19/coronavirus, tenho saído menos ainda, ou melhor, não tenho saído de modo algum. Nunca pensei que sentiria tanta falta de sentar em uma mesa de bar, beber algumas cervejas e jogar conversa fora com alguém. Mas sinto.

Também sinto muita falta de sentar tranquilamente em um café, beber algo quente e comer alguma coisinha, sem pressa. Eu fazia isso pelo menos duas vezes por semana. Por último, sinto falta de ir ao cinema. Desde meus 6 anos de idade (quando fui a primeira vez ao cinema) eu nunca fiquei tanto tempo sem ver um filme na telona. Ver filmes em casa não é a mesma coisa.

Quando será que voltaremos à normalidade? Voltaremos um dia à normalidade? É tudo incerto, tudo nublado.

PS.: este é um blog onde falo, majoritariamente, sobre sentir falta. De lugares, de pessoas, de sentimentos, de épocas. É um blog sobre nostalgia e sentimentos que não fenecem com o tempo.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

A primeira tarde de inverno

Não fez frio, mas a temperatura estava agradável. Saí de casa às 15:00h, após lavar e lubrificar a moto. O trajeto foi  de apenas 30km, por uma estrada já bem conhecida e rodada. No entanto, mesmo um passeio curto assim é capaz de surtir efeito. Em casa tudo estava estranho e eu estava irritado e impaciente. Saí da cidade e, assim que peguei a primeira reta na rodovia e acelerei até 150, 160, tudo magicamente sumiu. Toda a raiva e impaciência.

O vento em meu rosto, o barulho do motor, a adrenalina, tudo passando rapidamente... Eu não pensava em nada. Apenas acelerei até o meu destino.

Uma vez lá, parei a moto em uma entrada da estrada e fiquei ali, totalmente em paz, vendo o primeiro pôr do sol do inverno com um sorriso de satisfação no rosto. Creio que seja isso que querem dizer quando associam moto à liberdade. Dirigir uma moto é zen. E quem é que tem tempo para ver pôr do sol hoje em dia? Quem tem paciência? Esses momentos simples e sublimes têm se tornado cada vez mais raros, assim como as pessoas capazes de apreciá-los.




sexta-feira, 5 de junho de 2020


Sobre ser uma pessoa sombria, pessimista e negativista

Sei que algumas pessoas me veem assim. Sempre reclamando de tudo: das pessoas, da sociedade, da política, com uma visão de mundo pessimista e negativista. "Pense positivo!", "tenha boas vibrações", "acredite no futuro", "tenha fé nas pessoas", "agradeça por tudo todos os dias" e por aí vai. Já li e ouvi isso em relação a mim.

Ser good vibes, buscar forçadamente essa alegria constante de viver e existir é algo inatural. É baboseira. É alienação. Seres humanos tem altos e baixos, tem bons e maus momentos, dias de alegria e dias de tristeza. Tudo isso faz parte do pacote e negar isso é negar a própria natureza e a própria existência. Nós sentimos raiva, ódio, amor, afeto, indiferença e tudo o mais ao mesmo tempo. Mas poucas são as pessoas que têm a coragem necessária para encarar o próprio abismo, os cantos escuros de si mesmos. Mas não eu.

Na prática, penso que sou feliz. De bem comigo mesmo e com tudo o mais. Sou um bom companheiro, sou fiel, confiável e faço sempre todos ao meu redor rirem e procuro sempre deixar tudo o mais leve possível. Não finjo afeição por pessoas que abomino. Não consigo ser falso com ninguém. Não preciso de religião ou religiosidade, sequer acredito em algo. Isso às vezes assusta as pessoas.

Mas, de onde vem essa ideia de que eu seja um homem sombrio? Talvez do fato de que eu não esconda este lado meu. Quando as pessoas veem isso, elas se afastam. Não concordam. No atual momento que vivemos no país, por exemplo: quem não está puto com tudo ou é um fascista dos infernos ou é um alienado estúpido. Eu não passo pano pra ninguém, não aceito condutas abjetas e não olho para o outro lado quando presencio alguma injustiça. Sei que não vou mudar o mundo, mas no que depender de mim, sempre farei o que é certo.

E, por fim, se por um lado alguns se afastam porque me acham uma pessoa sombria, pessimista e negativista, por outro eu evito pessoas que são felizes o tempo inteiro, sempre sorrindo e agradecendo a deus e ao sol nas redes sociais. Pela minha experiência, esse tipo de pessoa é extremamente mal resolvida e infeliz. Quero ao meu lado pessoas reais, com sentimentos reais e naturais, que não evitam a si mesmas e nem nenhum aspecto de sua personalidade, por mais sombrio que seja.


sexta-feira, 29 de maio de 2020

Diário de sonhos: sobre a impossibilidade de um encontro e uma entidade

Ela estava em São Paulo. Foi a um evento. Eu iria depois. No caminho até o aeroporto, minha moto estragou. Eu não conseguia um táxi e nem ninguém que me levasse. A hora do voo se aproximava. Seria praticamente impossível embarcar. Mas de algum modo eu consegui. No evento, ela estava em um lugar e eu em outro. Eu tentava ligar, mas a ligação ficava ruim e não conseguíamos conversar. Procurávamos um ao outro, sem nunca nos encontrarmos. Fiquei aflito, frustrado e com raiva, tudo ao mesmo tempo.

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Nos fundos de um ferro-velho havia uma oficina mecânica. Fui até lá consertar a moto. Ao lado da oficina havia uma casa abandonada, e algo negativo e mau emanava de lá. Mesmo assim, entrei em um cômodo, mesmo com o mecânico pedindo para que eu não fizesse isso. Então algo aconteceu. Alguma energia, espírito, zumbi, monstro, tudo isso junto e ao mesmo tempo nada disso, mas algo inominável e indescritível. O mecânico se livrou da entidade e tudo voltou ao normal. Não senti medo, mas como se estivesse jogando alguma coisa em um video-game.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Diário de sonhos: casa e shopping

Estávamos em uma casa. Nas preliminares, sentados no sofá em frente a TV. Por algum motivo, não fizemos amor. Saímos de casa, em um carro com mais pessoas, e rodamos pela cidade. Tudo parecia diferente. Eu não conseguia parar de pensar em sexo. Estava excitado. Queria terminar o que havia começado.

Paramos em um shopping. Estava completamente vazio, com muitas lojas ainda fechadas. Caminhamos, nós dois e as demais pessoas do carro, pelos largos corredores. Mexíamos em tudo, como crianças curiosas. Logo estávamos sozinhos novamente. Você corria de mim, fingia que me evitava e sorria quando fazia isso. Participei da brincadeira. Nós nos abraçamos e assim ficamos, abraçados em um shopping vazio.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Sobre algo que tenho pensado



Nem sempre a vida toma o rumo que queremos. E, às vezes, ela toma o pior rumo possível. Nós lutamos, tentamos, nos esforçamos, mas às vezes nada disso é o bastante. E está tudo bem. Ninguém tem controle total sobre todos os aspectos da vida. Trabalho, relacionamento, finanças, futuro, família... Tudo isso se interconecta. Antes eu me desesperava, com uma sensação de urgência, de que tudo em minha vida está atrasado, parado e errado. Hoje eu mudo o que posso, tento mudar o que quero e entendo que algumas coisas não dependem de mim.

Duas frases de Beckett (um de meus autores preferidos) resumem bem minha vida no momento: 

"I CAN'T GO ON. I'LL GO ON"

"EVER TRIED. EVER FAILED. NO MATTER. TRY AGAIN. FAIL AGAIN. FAIL BETTER"

Apoio-me, assim, na arte para tentar sobreviver e ser uma pessoa melhor. E também para ter certa paz de espírito, algo que me permita seguir, apesar de tudo. Outra coisa: é quase impossível não sentir ódio de tudo  o que ocorre no país. A revolta é constante. Mas tento não deixar que esse sentimento seja maior do que o amor que tenho em mim. Por mais complicado que seja, é preciso ter alteridade. Em relação a isso, deixo o maravilhoso e pungente vídeo abaixo:


Diário de sonhos: sobre uma festa, uma montanha e amoras

Estava em minha casa com algumas pessoas. Parecia alguma festa. Barulho e movimento. Em meu quarto, víamos algo na tv. Um filme. Uma garota pediu para que eu a abraçasse e depois sentou em meu colo. Fiquei constrangido, pois não queria nada daquilo. Saí e caminhei em volta da casa. Alguém me chamou, mas não descobri quem.


Saímos da cidade e começamos a subir uma serra. A estrada de terra e grama era estreita e com mato em  volta. No horizonte, uma enorme montanha. Você me disse: "vamos andar distraídos, porque assim ninguém vai saber que estamos indo até a montanha." E assim fizemos. Em certo momento, você viu uma amoreira na beira da estrada. Fomos até a árvore e comemos algumas amoras. Estavam doces. Você me deu um beijo e seguimos nossa caminhada rumo à montanha.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Sobre realizar um sonho - e as consequências disso

Realizei um sonho antigo, que me acompanha há mais de 15 anos. Comprei uma motocicleta nova. Inglesa, com visual retrô. Era tudo o que eu sempre quis. Se estou feliz? Não sei. Acho que não.

Explico: a minha vida inteira eu corri atrás de amor, de afeto, de presença. Lutei por isso, gastei com isso, fui atrás mesmo. Colecionei humilhações, comportamentos patéticos e súplicas: tudo por querer aquilo que todos querem: um pouco de amor. Então, agora, tive a chance de gastar minhas economias de 3 anos para correr atrás e repetir todo esse processo exaustivo e degradante - ou eu poderia fazer algo novo.

E, mesmo com meu coração me implorando para fazer tal coisa, segui a razão. Quebrei o ciclo. Pensei em mim mesmo pela primeira vez em mais de 10 anos. Então, não, não estou feliz ou leve. Estou angustiado pra caralho. Sozinho e tal. Mas não estou nem um pouco arrependido. Demorou muito para que eu entendesse e aceitasse que tenho que amar, primeiramente, a mim mesmo. Afinal, se eu não me tratar bem e ser compassivo ao ponto de realizar um sonho material para mim mesmo, quem vai? Uma vida toda de concessão, humilhação e de busca por migalhas de amor e afeto não é uma vida que merece ser vivida. Vivi isso por tempo demais, então sei do que falo. Não estou feliz ou leve, mas espero que, com o tempo, pelo menos eu me sinta livre.