sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Incenso fosse música


isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Autobiografia (Ferlinghetti)


Sou um lago na planície.
Uma palavra
numa árvore.
Sou uma montanha de poesia.
Uma blitz no inarticulado.
Sonhei
que todos os meus dentes caíram
mas a língua sobreviveu
para contar a história.
Porque sou um silêncio
poético.




terça-feira, 20 de agosto de 2019

19/08/2019 - São Paulo - Manhã cinzenta




 A cidade de São Paulo amanheceu cinza. O sol não saiu. O motivo? Queimadas na região amazônica, permitidas pelas limitações que o presidente impôs ao IBAMA e pela troca do diretor do INPE, um cientista com décadas de experiência, por um militar ignorante que já avisou que não vai divulgar dados negativos. Tudo vai mal. Tudo vai muito mal.

 Hoje, para o povo brasileiro, há apenas duas opções: ou você está revoltado ou você está alienado. Não adianta ser good vibes e todo espiritualizado se amanhã não vai ter natureza e nem liberdade. É momento de combate, não de se esconder em zonas de conforto.

 A São Paulo negra me lembrou de duas coisas: Mordor e o filme Manhã Cinzenta, do cineasta Olney São Paulo. O filme retrata algo muito parecido com o tempo em que vivemos e viveremos, e deixo ele completo abaixo. Já em relação à Mordor, explico: para Tolkien, o mal tinha a ver com a destruição da natureza. Com a destruição da fauna e da flora, com a dizimação e escravização de raças, com industrialização desenfreada e a qualquer custo e com o fim da empatia e da capacidade de convivência com os diferentes. Ou seja, a Mordor de Sauron é um aviso à humanidade. É um retrato de nosso futuro (por mais que o autor insistisse que não era uma alegoria). Desertificação, desolação, nuvens negras, queimadas, violência e destruição. Nossa ponte para o futuro, para este futuro, já está sendo cruzada. E não há volta.



quinta-feira, 25 de julho de 2019

Solidão

Falar de solidão saiu de moda. Com tantas redes sociais, tantos amigos virtuais, mensagens constantes, grupos de app de mensagem, jogos e sites de streaming, a solidão desapareceu da pauta. No entanto, nunca fomos tão solitários. 

As relações são rápidas, superficiais e líquidas. Nada se concretiza de fato, de maneira significativa. As amizades são frágeis e falsas, os relacionamentos amorosos são um apelo desesperado por companhia, mesmo que essa companhia não seja a ideal - ou seja, qualquer companhia serve. A maioria, a imensa maioria das pessoas prefere um relacionamento medíocre à solidão. E há solidão até em relacionamentos concretos e duradouros. Esses ficam sem amor, sem afeto e cada um passa a habitar seu próprio mundo.

Tão conectados e tão solitários. Estes somos nós hoje.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Algumas dúvidas

O que fazer quando temos um amor, um sentimento bom e tranquilo, um sentimento de paz e conforto, e queremos projetar em alguém, mas este alguém não se mostra merecedor disso? Projetar talvez não seja a palavra correta. Falo de uma troca recíproca e natural, em uma relação onde duas pessoas se tratam bem e demonstram o carinho que sentem uma pela outra.

Penso que é um assunto deveras complexo. Por um lado, não podemos exigir determinado tratamento baseado em nossas carências afetivas e no ideal que temos de como devemos ser tratados. Por outro, quando falta afeto, admiração e carinho em uma relação é impossível se sentir bem e realizado nela.

O que fazer então? Como agir? Não é uma resposta fácil. Alguns trocam de parceira(o) constantemente, em uma busca desenfreada pelo relacionamento perfeito. Outros deixam de se relacionar, porque pensam que ninguém nunca os tratará como acham que merecem. E outros ainda mantém relacionamentos sem amor, sem afeto, sem carinho, admiração e cumplicidade. Resumindo: sem amor. Imagino que talvez poucos, bem poucos, têm a troca perfeita e recebem o amor que dão. Estes são felizes. Mas eles existem?






quarta-feira, 26 de junho de 2019

Me and My Friend


 
Me and my friend, we are not friendly anymore
We have not talked for so long
And if we had to talk, what could we say, sitting side by side
So long ago, we were dancing and singing
We could be together saying nothing
So long ago, it all meant much more than this
The pond, it seems so quiet tonight
And the swans are all huddled together
Well I sound alone here on my way home, again when no one is there waiting
So long ago we were dancing and singing
And it all meant something
So long ago, mean and my friend we were friendly
And now we don’t see each other no more
 

 

É estranho...

É estranho ter 30 anos e não ter uma pessoa para a qual eu possa ligar quando queira (para conversar  desabafar rir sem motivo chamar para beber um café ou uma cerveja marcar uma visita perguntar como vão as coisas dizer que sinto saudade fofocar algo ou qualquer coisa do tipo). 

Nunca fui de muitas amizades, e acredito que ninguém que seja sincero e honesto consigo mesmo tenha muitos amigos. E não me sinto íntimo o suficiente para entrar em contato constante com colegas e conhecidos. Então fica esse vácuo, essa solidão social, essa espécie de vazio de relações. 

Não é que eu me sinta mal por isso, ou triste. Estou acostumado. Mas que é estranho, isso é.

Polaroid de Andrei Tarkovski.

Últimas palavras escritas no diário de William Burroughs, pouco antes de sua morte

“Love? What is it? Most natural painkiller what there is.” 


quarta-feira, 19 de junho de 2019

Anotação feita após uma viagem de motocicleta

Gosto das estradas estreitas de Minas, mesmo com seus infinitos caminhões de cana e carga. Apesar de seus buracos e dos animais mortos pelo caminho, as estradas de Minas têm seus encantos: em suas curvas, morros e em quase toda a paisagem ao redor do asfalto.

Certa vez viajei à noite por um longo trecho em manutenção. Não havia sinalização, apenas o asfalto negro como o céu sem estrelas.Viajei assim, totalmente imerso no negro, por cerca de uma hora.Era um pouco, imagino, como estar no espaço: sem bordas, sem limites, solto no vazio. Gosto de sentir a brisa das estradas, presente mesmo no mais intenso verão. Viajo de dia, à noite, com chuva ou neblina. Literalmente, não há tempo ruim para viajar de motocicleta.

Nas estradas a mente vagueia em digressões mil. Imagino coisas, analiso outras, lembro de momentos e pessoas. As estradas me trazem conforto, paz - ou algo assim.

segunda-feira, 17 de junho de 2019

O fim do amor romântico e como as pessoas confundem isso com o fim do amor

Amor romântico é tóxico. É sobre controle, sobre obrigação, enfim, é construído sob o signo cristão e seus dogmas, sob a égide do capitalismo e da Arte. O amor romântico deve ser destruído.

O que é o amor romântico: é aquele conjunto de ideias e comportamentos e pensamentos que rege a vida de algumas pessoas sem que elas se deem conta disso. Conceitos como alma gêmea, amor eterno, monogamia, o entendimento de que sofrer por amor é normal, de que se seu par te agride verbalmente ou fisicamente é por excesso de ciúmes e, portanto, porque te ama muito, de que tudo deve ser perdoado, de que a pessoa nunca mais vai encontrar outra que amará tanto... Aí as pessoas se comparam com filmes, livros, novelas e afins e tentam, em sua vida real, fazer com que um relacionamento dure e seja feliz para sempre.Isso destrói vidas e ajuda na perpetuação do capitalismo e da hegemonia da sociedade patriarcal e religiosa.

O amor romântico deve morrer. Mas muitas pessoas confundem o fim do amor romântico com o fim do amor.

Carinho, afeto, fidelidade (se assim for de comum acordo entre os dois em uma relação monogâmica), sinceridade, honestidade, atenção, consideração, admiração, companheirismo e amizade. Essas coisas não têm absolutamente nada a ver com o amor romântico tóxico. São conceitos que dependem unicamente do caráter da pessoa. A soma disso é Amor, todo esse universo de sentimentos e condutas. Importante: isto deve acontecer de forma natural, sem cobranças ou controle ou exigências.

O problema, a porcaria do problema, é que muita gente aproveita a crítica ao amor romântico para agir de maneira sub-reptícia; para enganar e trair e controlar e exigir, para pular de galho em galho sem nunca se apegar ou se afeiçoar a ninguém. Repito: isso vai do caráter.Trair porque o relacionamento não vai bem, enganar e mentir para manter uma aparente normalidade e felicidade, perder o afeto e admiração porque pensa que isso faz parte de um tipo de amor/relacionamento tóxico... coisas assim são comuns.

É difícil, é muito difícil ver hoje um amor verdadeiro, que seja honesto e bonito, que contenha tudo o que eu disse acima. Em um mundo cada vez mais individualizado, mais egoísta e interesseiro é difícil encontrar uma pessoa com quem caminhar e crescer.Difícil, mas não impossível. E eu posso provar.