segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Nostalghia

Outro dia me pus a pensar: qual foi o momento mais feliz da minha vida? O momento mais pleno, leve e marcante? Cheguei à conclusão. Foram duas épocas, na verdade. Ou melhor, um ciclo.

Foi no começo da adolescência. Tive uma infância maravilhosa e uma pré-adolescência também. Mas este período foi um tanto violento. Aquela coisa de quem precisa impressionar outros garotos, que só homens entenderão. Caçava animais e procurava brigas sempre. Essa coisa de caçar animais me assombra até hoje e é motivo para MUITA terapia. Mas é assunto para outra conversa. 

Em um determinado período, lá pelos 14 anos, eu mudei. Fiquei mais amoroso, menos violento e quis abraçar o mundo: lia e via filmes e ouvia música como se não houvesse amanhã. Dos 14 até os 18, mais ou menos, vivi assim: apenas absorvendo toda forma de arte que conseguia. Uma de minhas lembranças mais confortáveis é de quando ia a locadoras de vídeo e pegava 5 VHS (pegue 5, pague 4 e fique 1 semana!) toda semana. Minas Vídeo, Vídeo Passos e 100% Vídeo eram as minhas locadoras preferidas. Vi mais de mil filmes assim. A vida não tinha preocupação, sabe? Pegava bicicleta, com uma mochila nas costas, e ia até a locadora. Ficava um longo tempo olhando as capas e lendo as sinopses. Hoje vejo que foi um dos momentos mais felizes de minha vida: absorvia arte, não tinha obrigações ou responsabilidades, apenas vivia para isso.

Mas eu era um adolescente taciturno, introspectivo e tímido. No final de 2007 tudo isso mudou. Aprendi a conversar com desconhecidos, tive coragem para conhecer gente nova, viajei sozinho pela primeira vez, enfim, abri meu mundo. E tudo ficou ainda melhor! As pessoas mais queridas de minha vida eu conheci nesta época. A dobradinha 2007/2008 foi meu último período genuinamente feliz, realizado e completo. Não sinto falta ou quero voltar a esta época, mas sempre me lembrarei com infinito afeto.

 

27/10/2025

 O dia está ensolarado e quente. Acordei mais cedo. Alimentei os gatos e saí. De casa ao trabalho eu levo 7 minutos apenas. No trabalho, muita coisa a fazer, mas tudo sob controle. Neste exato momento ouço o álbum Nebraska '82, do Bruce Springsteen, na íntegra. Maravilhoso! A vida vai bem. Segue seu curso.

-*- 

Tenho pensado muito em pessoas com as quais não mais convivo. Aquele amigão do ensino médio. Aquele parceiro da época do exército. Aquela amiga que simplesmente sumiu. O outro que se mudou. Sabe? Eu levo a vida numa boa, na medida do possível, e deixo estar. Deixo fluir. Não incomodo ninguém nunca. Mas, às vezes, sinto muita saudade desse pessoal todo. Queria ligar pra cada um e colocar o papo em dia, marcar um café. Eu sei, eu sei que talvez não valha o esforço, mas queria. Assim, no passado. Queria e logo não quero mais - que vivam suas vidas, com o peso de suas escolhas. 

Tenho pensado muito em como as pessoas marcam nossas vidas. Tive um amigo, por exemplo, que sempre me apresentava artistas novos. Trocávamos álbuns e dicas musicais. Até hoje, quando ouço algo que penso que ele iria gostar de conhecer, sinto-me nostálgico e um tanto triste por não poder mais simplesmente compartilhar isso com ele. Ou outra pessoa, que tinha um afeto e uma visão de mundo sonhadora e um tanto ingênua que praticamente não tinha lugar neste mundo cão, que era encantadora e cheia de amor. E então mudou completamente e sumiu. Ou o outro que foi meu companheiro de viagens e bares e reuniões em casa por anos a fio. Até que sumiu. Parece-me que a vida adulta é sobre isso: perder, afastar, sumir e superar. Não culpo ninguém. Mas gostaria de dizer, sabe: ainda amo todos eles. Onde quer que estejam, envio meu amor. 

terça-feira, 14 de outubro de 2025

Uma noite simples e perfeita

    Na saída do trabalho, passei no supermercado. Cheguei cedo em casa. Tomei um café e um banho bem demorado. Fiz uma lasagna com os melhores ingredientes possíveis. Sem pressa, sem preocupação. Ficou ótima. Depois coloquei Willie Nelson pra tocar bem baixinho, apaguei a luz do quarto e deixei só a luminária acesa. Comecei a ler (no momento estou lendo Satantango). Uma chuva forte caiu. As gatas se aninharam aos meus pés. Fiquei nessa paz por uma hora ou duas. Coloquei o livro de lado, apaguei a luminária e dormi.

Momentos assim são tão simples e tão perfeitos, sabe. Fico genuinamente feliz com isso. Fico em paz. 

 

    Começo pelo que eu não sou. Eu não sou conservador. Não sou moralista ou religioso. Penso que cada adulto tem total liberdade para fazer o que bem entender, desde que pague pelas consequências, se for o caso. Do que eu estou falando? Do consumo de drogas. Por mim, se a pessoa quer experimentar crack ou Special K, fique à vontade. Se quiser fumar e cheirar todos os dias também.

Isso dito, devo também dizer: não há lugar para drogados em minha vida. Nunca houve. Viciados geralmente ou são pessoas perigosas (alguns podem te roubar, ou atuar como mediadores/informantes para que bandidos te roubem), ou são fodidos psicologicamente (vivem em mania, ou se tornam pessoas totalmente paranoicas ou depressivas) e todos, sem exceção, são muito doentes.  

Já vi parente próximo destruir toda a vida, família e a si mesmo por conta de drogas. Mais de um. Já vi amigos perderem tudo. Então, minha tolerância com quem usa drogas é ZERO. E sim, isso inclui o pó eventual e a maconha habitual. Pessoas drogadas são insuportáveis. Fico feliz por ter eliminado todos os drogados da minha vida, do meu convívio. Gente assim pesa, sabe? Parece que arrastam a gente junto. Eu não consigo sequer ficar no mesmo ambiente deles.

 Perdi grandes amizades para as drogas. Pessoas que mudaram completamente. Meu pai é um alcoolista há décadas e a família é fraturada por conta disso. Ou seja, eu sei do que falo. Drogados/viciados são pessoas fracas, doentes que precisam de ajuda especializada. Mas geralmente eles nunca dão o primeiro e mais importante passo: reconhecer isso.

Falando em álcool, um breve relato pessoal aqui: desde o começo da pandemia eu comecei a beber mais. Bebia em casa. Comprava whiskys e vinhos. Cheguei a beber 2 garrafas de whisky e umas 8 garrafas de vinho por mês. O gasto era alto e eu ia dormir quase toda noite chapado. Quando a pandemia acabou, o hábito continuou. E pior: eu ainda bebia na rua, em bares. Fiquei assim por uns 3 anos, até que acordei. Cortei 90% do álcool, não bebo mais em casa e nos bares apenas um chopp ou dois. Minha vida mudou em diversos aspectos. Mudou para melhor. Saí desta furada e perdi peso, ganhei ânimo e qualidade de vida. Eu estava intoxicado 24h por dia, praticamente. Assustador.  

Sinto muita falta do que alguns amigos eram antes das drogas. Sinto falta do que meu pai era antes do álcool. Mas não posso controlar isso. Então, faço o que acho que deve ser feito: afasto-me. Os drogados têm um orgulho, uma empáfia, sabe? Acham-se sempre com a razão, riem na cara de quem quer ajudar e sentem-se sempre no controle. Mas nunca estão. No fundo, no fundo, sabem disso. Mas nunca admitem. A vida sem drogas é muito boa, é bem melhor. Dá uma clareza, sabe? A gente vê todo o horizonte, programa, projeta e corre atrás. Droga é atraso de vida, seja álcool e maconha ou ácido, comprimido, cogumelos ou ayahuasca. Coisa de gente fraca, de gente doente e que precisa de tratamento.

Viver não é fácil. Correr atrás não é fácil. Errar, perder e se frustrar não é fácil. Mas é o que faz de nós humanos. 

 

 

 

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

 Busco um sentimento que eu não sei o nome. Perdi depois de adulto. Em dias como o de hoje, com o céu limpo e claro e com ventos fortes e gelados, eu posso senti-lo. Transbordo-me dele. 

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Sobre um acerto na vida

 Minha vida é feita de erros e oportunidades perdidas. Mas acertei quando criei um clube de leitura em 2019. O Macondo Clube de Leitura. Desde a criação já lemos quase 40 obras. Passamos pela pandemia e estamos firmes e fortes como nunca. Encontrar-me com várias pessoas para discutir determinada obra é o melhor momento do meu mês. Fico genuinamente feliz e grato por todos que comparecem. São coisas assim que fazem a vida valer a pena, e não exagero ao dizer isso.

Agosto, dia 29. 2025.

 Acordei de madrugada com o barulho da chuva. Na tv, um show de jazz com volume bem baixo. Viciei nisso, sabe. Ligo a tv, coloco um concerto de jazz qualquer e fico vendo deitado até pegar no sono. Desliguei a tv e voltei a dormir. Acordei algumas horas depois. Vesti a roupa e, por cima, a roupa impermeável. Saí de moto na chuva rumo ao trabalho.

Cá estou neste momento. Ainda chove lá fora (e essa saudade enjoada não vai embora, como disse Milton Nascimento). O vento úmido e frio entra pela janela aberta bem à minha frente. O café fresco e quente está ao alcance das mãos. Ouço o álbum Evermore, da Taylor Swift. Tudo está tranquilo, tudo está em paz. 

Mas eu não estou feliz. Sinto-me brutalmente sozinho, ainda preso a um relacionamento que me traz mais amargura do que felicidade. Sinto que sou usado quando convém e descartado em qualquer outro caso. Enfim, não vou amargar este post com isso. Guardo em mim. Estou velho, sabe. E cansado. Sem força para brigar over and over and over again por algo que nunca vai mudar - eu é quem preciso mudar. É isso.

O café já está no fim. A próxima música do álbum é a última, "It's time to go".





quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Os anos passam...

     ...Rápido demais. Tenho trabalhado muito. Uso todo o meu tempo livre para descansar. Não escrevo mais, nem mesmo em meu diário físico. Sinto-me um pouco cansado. A solidão que me acompanha por toda a vida persiste. Também tenho sentido algo estranho, um sentimento que vem da constatação da brevidade da vida. Olho para os meus pais já idosos, olho para os meus gatos também e penso que em 5 ou 10 anos muito provavelmente nenhum deles estará mais por aqui. Tenho tirado fotos do dia a dia e filmado suas rotinas. É meio que uma saudade de um tempo que ainda não acabou, mas que eu sei que vai acabar. Enfim, é um papo aparentemente deprê, mas não me sinto triste ao falar disso. É a vida, afinal, com a única certeza que ela nos dá. De que é finita. 

     Comecei a fazer cárdio na academia. Estou me sentindo chapadinho de endorfina, sempre leve e feliz e com vontade de mais. Por outro lado, apareceu-me uma hérnia de disco que está atrapalhando muito a minha qualidade de vida. Não consigo sentar, não consigo correr e não consigo pegar peso. 3 ressonâncias, médico e fisioterapeuta por meses já. Mas nem gosto de falar ou reclamar. Uma hora melhoro.


    Por fim, tenho vivido uma vida conscientemente alienada. Não quero saber notícias de política, de polícia, de famosos e nem de ninguém. Deixei de seguir jornais e celebridades e políticos nas redes sociais. Quero saber apenas de arte, natureza e beleza. O mundo é um lugar feio e fodido, cheio de bestas-feras. Protejo a mim e aos meus, vivo uma vida justa, mas - pelo menos por enquanto - preciso de um tempo longe de toda a sujeira e maldade. Vivo a vida com amor e tranquilidade. Amo e vivo pelas manhãs, pelo café quentinho, pelo cafuné de um gato, um cobertor macio em uma noite fria e por um bom livro lido sem pressa. Isso importa, sabe. Às vezes, penso que isso é o que mais importa.

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Oi, Deus, sou eu de novo...

    Nada a reclamar. Nada a lamentar. Ou melhor, as mesmas coisas de sempre. Então, não vamos nos repetir aqui. 

-*-

    Vivo como quem espera um grande amor ou algo do tipo. Sabe do que falo? Ou uma enorme quantia de dinheiro, um presente inesperado de uma pessoa inesperada, aquele contato ou mensagem que pode mudar a vida, um cometa ou uma bomba atômica. Não fico ansioso com isso tudo. Fico esperançoso.

-*-

    Acordo às 07:30h. A roupa sempre está em uma cadeira ao lado. Visto-me sem pressa (e com certa dificuldade em certos dias, por conta de uma inflamação infernal no piriforme). Vou ao banheiro e, após a higiene, sento no sofá por uns 5 minutos. Os gatos chegam aos poucos e me dão bom dia. Um afago aqui e ali, um pouco de colo. Sirvo a ração, tiro a moto da garagem e vou para o trabalho, o que não leva mais do que 10 minutos.

    Das 11:00h até 12:30h faço academia. Tomo um banho por lá mesmo. Volto ao escritório e almoço rapidamente na cantina. Às 17:30h retorno para casa. Às vezes passo em um supermercado ou cafeteria. Ontem mesmo passei em uma cafeteria da cidade. Comprei um enorme pão artesanal para levar para casa e pedi um espresso. O local estava lotado, com muitas pessoas conversando alto. Saquei o kindle da mochila e li um capítulo inteiro de Grandes Esperanças durante o ocaso outonal. Consigo focar na leitura em qualquer lugar e situação. Acabei o café e fui embora.

    Em casa, ajeito as coisas dos gatos, tomo um banho demorado e me deito um pouco. Depois coloco uma música ou podcast, enquanto faço uma bruschetta com o pão comprado mais cedo. Revejo alguns episódios de Friends. Penso em mandar mensagem para um amigo. Desisto. Pego o livro físico de Grandes Esperanças e continuo de onde parei no kindle. Sinto-me só. Suspiro. E espero.

 

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

 Busco viver a sinceridade afetuosa que reside além de qualquer política ou ideologia. Procuro ter cuidado ao lidar com o outro. Sem grosseria, estupidez ou indiferença. Busco a simplicidade das relações. 

Eu era uma pessoa muito delicada e frágil, emocionalmente. Meu dia acabava se alguém me xingasse no trânsito, se o patrão me desse um esporro, se algum amigo fizesse uma piada com a minha aparência ou algo do tipo. Daí eu ficava extremamente melancólico e cabisbaixo. Com o tempo, claro, aprendi a relevar tudo isso, a não ser tão sentido. De um adolescente sentimental e acanhado me tornei um adulto casca-grossa. Algumas pessoas até mesmo dizem que sou tão direto e objetivo que chego a ser grosso. E eu entendo isso.

O que busco, então, é um meio termo. Não tão insensível ao ponto de se tornar um imbecil grosseirão, nem tão sentimental ao ponto de voltar a ser aquela criatura melancólica que vivia machucada. É possível? Não sei, sinceramente, não sei. 

O que mais me aproxima disso é o modo como lido com os animais. Tenho gatos e ali eu consigo ser assim: delicado e honestamente sentimental. Abraço os bichos e digo que os amo. O coração fica quentinho, sabe? Chegar em casa ao fim do dia e ver que eles ficaram ali sozinhos o dia todo e que ficam em minha volta quando entro é algo que me deixa feliz e realizado. Simples assim.

Mas não consigo nada sequer parecido com qualquer pessoa. As pessoas têm se tornado insuportáveis. Só pensam em dinheiro ou em deus ou em política. São cada vez mais e mais egoístas. É cada um por si, é um contra todos. Não há nenhum tipo de cuidado ou atenção ao lidar com o outro, seja o outro um desconhecido ou um parceiro ou parente.

Nos relacionamentos afetivos não é diferente. Mas isso é assunto para outra postagem. Minha vida amorosa se resume a algumas linhas da canção Just Be Simple, do Songs:Ohia, banda de folk do Jason Molina:

You never hear me talk about one day getting outWhy put a new address on the same old loneliness