sexta-feira, 8 de novembro de 2024

 Busco viver a sinceridade afetuosa que reside além de qualquer política ou ideologia. Procuro ter cuidado ao lidar com o outro. Sem grosseria, estupidez ou indiferença. Busco a simplicidade das relações. 

Eu era uma pessoa muito delicada e frágil, emocionalmente. Meu dia acabava se alguém me xingasse no trânsito, se o patrão me desse um esporro, se algum amigo fizesse uma piada com a minha aparência ou algo do tipo. Daí eu ficava extremamente melancólico e cabisbaixo. Com o tempo, claro, aprendi a relevar tudo isso, a não ser tão sentido. De um adolescente sentimental e acanhado me tornei um adulto casca-grossa. Algumas pessoas até mesmo dizem que sou tão direto e objetivo que chego a ser grosso. E eu entendo isso.

O que busco, então, é um meio termo. Não tão insensível ao ponto de se tornar um imbecil grosseirão, nem tão sentimental ao ponto de voltar a ser aquela criatura melancólica que vivia machucada. É possível? Não sei, sinceramente, não sei. 

O que mais me aproxima disso é o modo como lido com os animais. Tenho gatos e ali eu consigo ser assim: delicado e honestamente sentimental. Abraço os bichos e digo que os amo. O coração fica quentinho, sabe? Chegar em casa ao fim do dia e ver que eles ficaram ali sozinhos o dia todo e que ficam em minha volta quando entro é algo que me deixa feliz e realizado. Simples assim.

Mas não consigo nada sequer parecido com qualquer pessoa. As pessoas têm se tornado insuportáveis. Só pensam em dinheiro ou em deus ou em política. São cada vez mais e mais egoístas. É cada um por si, é um contra todos. Não há nenhum tipo de cuidado ou atenção ao lidar com o outro, seja o outro um desconhecido ou um parceiro ou parente.

Nos relacionamentos afetivos não é diferente. Mas isso é assunto para outra postagem. Minha vida amorosa se resume a algumas linhas da canção Just Be Simple, do Songs:Ohia, banda de folk do Jason Molina:

You never hear me talk about one day getting outWhy put a new address on the same old loneliness

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

And in the end...

 ...The love you take is equal to the love you make.

    Desculpa, Macca, mas essa afirmação é falsa. Para algumas pessoas, quando mais amor você dá, demonstra, exerce etc mais elas querem. Não há reciprocidade e não há disponibilidade emocional. Não há conforto. Só uma cobrança por mais e mais e mais. Então, ou você se sacrifica em troca de migalhas de afeto, ou você se torna tão distante e frio e indiferente quanto a outra pessoa. Bem, pelo menos foi o que me aconteceu.

    Mas isso não é lá muito bom. Sei que sou uma pessoa afetuosa, carinhosa e tal. Fico guardando este meu lado para alguém que de fato mereça. Por um longo período em minha vida eu mendiguei afeto, forcei amor e fiz de tudo para ser um pouco amado. Não recomendo. É patético e humilhante. Agora, minha parte boa eu guardo. Até (quando?).

 

quinta-feira, 27 de junho de 2024

É importante saber

    Que você não é o centro do universo. Que nem tudo é sobre você. Que ninguém, absolutamente ninguém, nem seus pais ou irmãos ou amorzinho pensa em você o tempo todo. Que, para a gigantesca maioria das pessoas do mundo, do seu mundo, até, pouco importa se você vive ou morre. Saiba que é. Só. Individual. Só mais uma alma entre bilhões de almas. E, ao saber disso, ao aceitar isso, talvez, apenas talvez, a sua vida fique um pouco mais leve. Deve ser difícil viver se achando Atlas, quando na verdade  não passa de uma imitação tosca de Narciso.


sexta-feira, 5 de abril de 2024

Diário de Sonhos - 04/04/2024

 Estava em um bar alternativo genérico qualquer. Um bar barato, visualmente poluído, com gente diversa, ambiente abafado à meia luz, com puffs e camas e corredores com luz negra. Cheguei ao balcão para fazer um pedido e vi um amigo da época da faculdade. Disse que não sabia que ele tinha se mudado para a cidade, mas ele não me deu bola e saiu de perto. Fiquei ressentido com isso. Havia alguns velhos músicos de rock'n roll conversando entre si e fiquei ouvindo por um tempo. Depois, uma amiga chegou e ficamos conversando durante a noite. Eu deitado na cama, ela em um puff. O dia apareceu e acabei almoçando no bar. Fiquei preocupado por estar ali a tanto tempo, mas não conseguia ir embora.

sexta-feira, 16 de junho de 2023

16/06/2023

    Há um sentimento que não sei dizer ao certo o nome, algo bom que sinto quando vivo sem depender de ninguém. Entende? Digo, depender de qualquer modo, em qualquer situação ou circunstância, para qualquer finalidade. Não é fácil de explicar: é uma espécie de conforto que tem origem na certeza de que depender somente de mim mesmo não me trará frustração ou raiva nem nada do tipo. É saber o do meu próprio limite, da minha própria capacidade e da minha real vontade.
 

Não se trata de um simples mecanismo de defesa ou de inaptidão social, mas de uma constatação que advém da experiência.

    Corte para a segunda pessoa: você marca um encontro e a pessoa não vai ou desmarca em cima da hora. Você delega uma tarefa no trabalho e ela não é feita. Você depende de alguém para fazer algo e essa pessoa não desenvolve o que deveria e como deveria. Você investe tempo e dinheiro e carga emocional em um relacionamento que só te suga e que não te dá nenhum retorno em nenhum aspecto. Você mais o outro é igual a você frustrado. Não sempre, não com todos, mas quase sempre e com quase todos. A medida da frustração é a mesma medida do quanto dependemos do outro.

    Volta à primeira pessoa: vou ao cinema, às cafeterias e restaurantes, leio meus livros, faço meu trabalho, quase sempre só. Sem me sentir mal por isso, mas bem ao contrário: sinto-me ótimo, confortável e tranquilo por passar muito tempo comigo mesmo. O lado ruim, ou nem tão ruim assim, é que cada vez mais quero passar menos tempo com qualquer pessoa.

 Sexta-feira. No escritório. Chove. Ouvindo Iron and Wine (Cold Town). Normalmente, isso seria um momento de tranquilidade e conforto. Mas não é. Não hoje.

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

07/10/2022

Sexta-feira. No escritório. Chove. Ouvindo Mojave 3 (In Love With a View). Normalmente, isso seria um momento de tranquilidade e conforto. Mas não é. Não hoje.

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Sobre Led Zeppelin, bolinhos de chuva e a semana que se inicia

 Acordei cedo. Quase duas horas mais cedo do que o normal. Separei a ração dos gatos, troquei a água e limpei as bandejas. Dobrei algumas roupas que estavam jogadas e organizei o quarto. Saí sem pressa para o trabalho.

No escritório, enchi um copo da starbucks até a metade com café coado, peguei alguns bolinhos de chuva e fui para a minha mesa começar o dia. O spotify, no modo aleatório, tocou Going to California. Senti uma felicidade imensa. Sem motivo algum. Algumas músicas do Led Zeppelin me dão uma nostalgia boa, sabe? Lembro dos meus 13 anos, quando comecei a descobrir o rock'n roll. 

Enfim, foi bom começar a semana assim. Com leveza e um pouquinho de alegria boba e sem motivo.

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Sobre um reencontro especial

Há duas semanas tive um reencontro muito especial e significativo em minha vida, algo que me deixou genuinamente feliz e me deu até certa energia. Foi em uma manhã de sábado e de maneira um tanto aleatória. Este reencontro foi com o Cinema. Voltei a ver filmes clássicos e me distanciei da enxurrada de merda dos streamings da vida. Como é bom rever Godard, Antonioni, Kurosawa, Bergman, OZU e todos os demais. Vou ficar nisso agora. Cinema = vida!

28/09/2022



 Saí do escritório e rumei para uma cafeteria. Bebi um expresso - horrível. Depois, pedi uma caneca de 700 ml de chope. O local lotou repentinamente, então coloquei meus fones intra-auriculares para abafar o ruído (amo o ruído natural de cafeterias: as pessoas conversando, talheres e pratos, máquinas de café soprando seu vapor, mas eu precisava de um pouco de foco). Peguei meu Kindle e abstraí totalmente na leitura. Estou lendo Homens Sem Mulheres, livro de contos do Murakami. Desde o primeiro conto, faço o seguinte: vou a uma cafeteria da cidade, sento e leio um conto inteiro lá. Já estou quase no fim do livro. O conto da vez foi Scheherazade.  

 Após ler metade e terminar o chope, pedi outro. Já estava levemente embriagado - não havia comido nada o dia todo. Na cafeteria, notei algo: o branding da marca é pautado em em encontros, relações, amizades etc. Em minha frente, uma letreiro em neon: "A vida é feita de encontros". E eu ali, sozinho. Meio patético, talvez. Ri disso internamente e segui com a leitura. Terminei o segundo chope e o conto - era sobre uma enfermeira cuidadora que faz sexo casual com um paciente deprimido - e sempre, depois do ato, ela conta alguma história. Daí o título.

 Saí da cafeteira e fui até uma cervejaria próxima. Lá, bebi mais dois pints, enquanto via um jogo do Flamengo - eu, que nem gosto de futebol. Algumas horas depois, em casa - a casa vazia, silenciosa - fiz algo para comer, tomei um banho e me deitei. Então senti algo estranho: certa embriaguez misturada com solidão misturada com apreensão e com uma boa dose de letargia. Continuei a ouvir as minhas músicas, olhando para o  teto até o sono chegar. Acordei com vontade de beber mais. Talvez hoje eu leia outro conto.