Saí do escritório e rumei para uma cafeteria. Bebi um expresso - horrível. Depois, pedi uma caneca de 700 ml de chope. O local lotou repentinamente, então coloquei meus fones intra-auriculares para abafar o ruído (amo o ruído natural de cafeterias: as pessoas conversando, talheres e pratos, máquinas de café soprando seu vapor, mas eu precisava de um pouco de foco). Peguei meu Kindle e abstraí totalmente na leitura. Estou lendo Homens Sem Mulheres, livro de contos do Murakami. Desde o primeiro conto, faço o seguinte: vou a uma cafeteria da cidade, sento e leio um conto inteiro lá. Já estou quase no fim do livro. O conto da vez foi Scheherazade.
Após ler metade e terminar o chope, pedi outro. Já estava levemente embriagado - não havia comido nada o dia todo. Na cafeteria, notei algo: o branding da marca é pautado em em encontros, relações, amizades etc. Em minha frente, uma letreiro em neon: "A vida é feita de encontros". E eu ali, sozinho. Meio patético, talvez. Ri disso internamente e segui com a leitura. Terminei o segundo chope e o conto - era sobre uma enfermeira cuidadora que faz sexo casual com um paciente deprimido - e sempre, depois do ato, ela conta alguma história. Daí o título.
Saí da cafeteira e fui até uma cervejaria próxima. Lá, bebi mais dois pints, enquanto via um jogo do Flamengo - eu, que nem gosto de futebol. Algumas horas depois, em casa - a casa vazia, silenciosa - fiz algo para comer, tomei um banho e me deitei. Então senti algo estranho: certa embriaguez misturada com solidão misturada com apreensão e com uma boa dose de letargia. Continuei a ouvir as minhas músicas, olhando para o teto até o sono chegar. Acordei com vontade de beber mais. Talvez hoje eu leia outro conto.